Alemanha alerta para efeitos econômicos das sanções à Rússia
4 de maio de 2022Líderes do governo alemão encerraram nesta quarta-feira (04/05) em Berlim um encontro de dois dias a portas fechadas, em que discutiram a política de oposição à guerra na Ucrânia e também seus efeitos para a economia da Alemanha, segundo relataram os participantes em uma coletiva de imprensa após o encerramento da reunião.
Eles reforçaram o apoio a um embargo ao petróleo russo, proposto nesta quarta pela União Europeia (UE). Mas, ao mesmo tempo, advertiram que isso pode trazer consequências.
O ministro da Economia e vice-chanceler federal, Robert Habeck, disse que uma proibição gradual das importações de petróleo russo pela UE poderia levar a "interrupções de fornecimento". Habeck também destacou que isso pode ocasionar aumentos de preços. Ainda assim, ele afirmou que classifica a medida como necessária.
"Já disse algumas vezes que nesta situação, obviamente, não podemos garantir que não haverá interrupções [no abastecimento de produtos], principalmente regionais", declarou o ministro aos repórteres.
Visto como mais cauteloso em relação ao conflito em comparação com outros líderes ocidentais, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, tem sido pressionado a tomar uma postura mais firme inclusive dentro da própria coalizão governamental, formada pelo Partido Social-Democrata (SPD), de Scholz, Partido Verde e Partido Liberal Democrático (FDP).
Ao lado de Habeck, o chanceler afirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, calculou mal a guerra contra a Ucrânia, uma vez que enfrenta agora uma Otan e uma UE mais fortes e unidas.
O chefe de governo da Alemanha disse ainda que, durante o encontro em Berlim, as lideranças governamentais discutiram leis e regulamentações capazes de acelerar o desenvolvimento de gás natural liquefeito, o que já deve ser apresentado no início da próxima semana.
O ministro das Finanças, Christian Lindner, afirmou que novas sanções à Rússia foram discutidas, inclusive se os bens e ativos dos sancionados deveriam se tornar públicos.
Mudança de postura
Aos poucos, a postura da Alemanha em relação ao conflito tem mudado. O país mantinha uma política de não enviar armas a zonas de conflito e, assim, não ajudava a Ucrânia diretamente na guerra contra a Rússia. Semana passada, Berlim anunciou que vai enviar 50 blindados Gepard de combate antiaéreo.
Os blindados deverão vir dos estoques da empresa de armamento Krauss-Maffei Wegmann (KMW). Originalmente, o Gepard foi desenvolvido para fornecer à Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha) proteção contra aeronaves de voo baixo e helicópteros de combate, e também pode ser usado contra alvos em solo.
Na segunda-feira, o governo alemão indicou apoio ao embargo ao petróleo russo que é preparado pela União Europeia. A decisão ocorre depois de meses de reticência em relação a sanções ao setor energético.
Pressão sobre Scholz
Mesmo assim, Scholz segue sob pressão. Ele tem sido criticado por não visitar a capital ucraniana, Kiev, no que seria, segundo críticos, uma demonstração de solidariedade à Ucrânia.
O chanceler federal alemão descartou fazer a viagem nas próximas semanas, mencionando a atitude do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, de declinar um convite ao presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, companheiro de partido de Scholz.
Na ocasião, o governo da Ucrânia criticou Steinmeier ao alegar que ele não considerou a Rússia como uma ameaça quando era ministro do Exterior, de 2005 a 2009, durante o governo de Angela Merkel. Em Berlim, o embaixador da Ucrânia, Andriy Melnyk, criticou o raciocínio de Scholz, dizendo que ele "não é muito estadista".
Por outro lado, o líder do principal partido de oposição ao governo, a União Democrata Cristã (CDU), de Angela Merkel, visitou a Ucrânia nesta terça-feira. Friedrich Merz esteve nas cidades de Kiev e Irpin.
Finlândia e Suécia na mesa
Paralelamente ao encontro de líderes do governo alemão, as chefes de Estado da Finlândia, Sanna Marin, e da Suécia, Magdalena Andersson, reuniram-se com Scholz em Berlim na terça-feira.
Scholz disse que apoiaria a candidatura de seus países para se tornarem membros da aliança militar ocidental Otan.
Historicamente neutras, a exemplo do período da Guerra Fria (1945-1991), Finlândia e Suécia dividem a preocupação pela ameaça de agressões por parte da Rússia desde o início da guerra na Ucrânia. Ambos os países devem decidir nas próximas semanas um possível pedido de ingresso na Otan.
gb (AFP, DPA, Reuters, AP)