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Ah não, lá vêm eles de novo!

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
23 de agosto de 2022

O Bayern joga numa liga própria, só dele. O resto é o resto. Basta ver o saldo de gols. Jamais na história da Bundesliga qualquer equipe começou uma temporada com três vitórias e um saldo de 14 gols.

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Assim não é possível! Depois do adeus de Robert Lewandowski, muita gente achou que finalmente teria chegado a vez de o Borussia Dortmund ou o RB Leipzig fazer frente ao Bayern de Munique para acabar com essa história de conquistar títulos um atrás do outro e levantar a Meisterschale (salva de prata) a cada final de temporada. Muitos se perguntavam como os bávaros iriam dar conta sem o seu principal artilheiro dos últimos anos, detentor de inúmeros recordes no quesito supremo do futebol: a marcação de gols.  

Bastaram apenas três rodadas para desiludir todos aqueles que davam como favas contadas que desta vez o título da 60ª temporada da Bundesliga seria disputado palmo a palmo e que o Bayern teria bem mais dificuldades de impor sua supremacia do que nos últimos dez anos. Afinal, Dortmund e Leipzig também se reforçaram, justamente para dar um basta ao predomínio bávaro ou pelo menos para impedir que o título fosse decidido já com algumas rodadas de antecedência.

Uma nova era no futebol ofensivo?

Bem, pelo que se viu até agora, os esperançosos torcedores anti-Bayern já podem ir colocando a sua viola no saco. O ataque do Bayern não apenas se arranjou, mas está no bom caminho de inaugurar uma nova era no que diz respeito ao futebol ofensivo. Em seus primeiros quatro jogos oficiais – um pela Supercopa e três na Bundesliga – a artilharia bávara marcou 20 gols, distribuídos por nove jogadores diferentes.

É só fazer as contas. São em média cinco gols por partida. Não bastasse isso, é a primeira vez na longeva história de 60 anos da Bundesliga que uma equipe começa a temporada com três vitórias seguidas e, além disso, com 15 gols pró e apenas um gol sofrido.

Com esses dados estatísticos, a dúvida dos mais céticos sobre quem substituiria Lewandowski à altura é varrida da mesa e não faz mais nenhum sentido. O que se viu até agora do Bayern é um coletivo ofensivo muito bem azeitado e impulsionado por uma dupla de volantes de respeito.

Joshua Kimmich
Passes de Kimmich não raras vezes resultam em claras chances de golFoto: Matthias Hangst/Getty Images

Joshua Kimmich, por exemplo, não se cansa de cobrir os espaços vazios deixados atrás dos quatro mosqueteiros ofensivos (Musiala, Müller, Gnabry e Mané) e os municia com passes verticais em profundidade que, não raras vezes, resultam em claras chances de gol.  Sem esquecer que Julian Nagelsmann ainda dispõe de dois "coringas" que também podem compor esse arrasador quarteto: Coman e Sané. Foi o que aconteceu na recente partida contra o Bochum com resultado conhecido: 7x0.  

No lugar de Lewandowski, múltiplos atacantes de referência 

Ao lado de Kimmich, Marcel Sabitzer, como fiel escudeiro, faz sua parte na "casa de máquinas", protegendo a defesa, ao mesmo tempo em que vez por outra aparece no setor ofensivo como fator surpresa com seus chutes de longa distância.

Nagelsmann reconhece o bom trabalho feito pelos dois: "Eles garantem a compactação na faixa central, ofensiva, mas também defensivamente. E olha que não é fácil dar cobertura à defesa quando temos quatro ou cinco jogadores no último terço infernizando a vida do adversário. Qualquer desatenção pode ser fatal e dar ensejo a um contra-ataque."

Fato é que Julian Nagelsmann modificou completamente, e em poucas semanas, o sistema de jogo de sua equipe. Em vez de atuar com um atacante de referência (Lewandowski) agora o time joga com múltiplos atacantes de referência com posição fixa apenas na escalação oficial que aparece no telão.

Julian Nagelsmann, treinador do Bayern de Munique
Técnico Julian Nagelsmann mudou completamente, e em poucas semanas, o sistema de jogo da equipeFoto: Alex Gottschalk/DeFodi Images/picture alliance

De fato, não guardam posição nenhuma e neste mês de agosto de 2022 atropelaram seus adversários com infiltrações em velocidade seja pelos flancos, seja pelo centro. A posição de atacante de referência na pequena ou grande área não existe mais. Em vez disso, as posições dos jogadores que compõem o quarteto atacante não são fixas, são móveis. O carrossel holandês de 1974 manda lembranças!

Liga própria

Claro, se olharmos a tabela, são apenas dois pontos que separam o Bayern dos seus três mais diretos perseguidores (Gladbach, Union Berlin e Mainz). O Dortmund, eterno designado concorrente principal dos bávaros, está a três pontos de distância.

Entretanto, fica a impressão – mais uma vez, diga-se de passagem – que o Bayern joga numa liga própria, só dele. O resto é o resto. Basta olhar para o saldo de gols. Jamais, na história da Bundesliga, qualquer equipe começou uma temporada com três vitórias e um saldo de 14 gols! É preciso somar o saldo de gols dos primeiros seis "perseguidores" na tabela, para superar o saldo do decacampeão. 

Ah não, lá vem eles de novo!

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. 

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.