A tradição das feiras natalinas em Berlim
3 de dezembro de 2018Apesar de ser uma metrópole, Berlim possui bairros mais afastados do centro que lembram cidadezinhas do interior. E, na época do Natal, essas regiões parecem ficar ainda mais mágicas. No ano passado, buscava algum mercado natalino diferente e acabei indo parar em Marienfelde. O dia era típico de inverno, escurecendo já no meio da tarde, uma névoa completava o cenário pitoresco.
Quanto mais pedalava em direção ao sul de Berlim, mais deserta ficava a cidade. Foi quando chegamos a uma rua só com casas. No fim dela, ficava a pracinha principal da antiga vila. Ao lado da praça, estava a fazenda que anualmente sede espaço para uma feira de Natal.
Além de barracas vendendo objetos de decoração para o Natal, havia diversas opções de presentes artesanais e culinárias no mercado natalino montado no pátio externo da fazenda Lehmman. No pequeno palco, bandas de moradores e corais de adultos e crianças da igreja animavam a festa. Os estábulos também estavam abertos à visitação, e principalmente crianças se divertiam com os animais da fazenda.
O mercado de Natal da fazenda Lehmman é um dos mais de 120 que acontecem em Berlim nas semanas que antecedem o Natal. É uma das tradições mais populares desta época na Alemanha e tem suas origens na Idade Média.
Um dos primeiros mercados de Natal que se tem notícia foi montado em 1310 em Munique. Com o decorrer das décadas, foram se espalhando pelas regiões de línguas germânicas. Em Berlim, os primeiros surgiram no século 16. Mas somente séculos mais tarde é que essas feiras passariam a ser um elemento tradicional do período que antecede o Natal na capital alemã.
Nos mercados de Natal é possível encontrar os alimentos típicos desta época, como o biscoito de baunilha, o Stollen – um pão que lembra vagamente nosso panettone –, e o Lebkuchen – o pão de mel com especiarias. No entanto, é uma bebida que faz o maior sucesso: o quentão ou vinho quente, conhecido aqui como Glühwein.
A bebida típica da época do advento leva, além de vinho tinto, especiarias como cravo. Sua origem remete à Antiguidade, sendo já bebida na Antiga Roma e Grécia. O Glühwein passou a se popularizar na Europa durante a Idade Média. Seu gosto lembra o dos quentões das festas juninas do sul do Brasil. Atualmente, as feiras de Natal em Berlim oferecem 35 variedades da bebida. Somente na do Palácio de Charlottenburg são vendidos cerca de 2,3 mil copos de Glühwein por dia.
Dos mais de 120 mercados de Natal que existem em Berlim, os meus preferidos são os que ficam fora do círculo turístico, como os na Potsdamer Platz ou na Alexanderplatz. Além do na fazenda Lehmman, que abre neste ano apenas no segundo e no terceiro fim de semana de advento, outro bastante charmoso é o do Palácio de Charlottenburg. Já o do Centro Antigo de Spandau é o maior da cidade e bastante popular entre os berlinenses.
Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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