"A democracia precisa de nós”, diz Steinmeier
24 de dezembro de 2019Em seu terceiro discurso de Natal desde que assumiu a Presidência da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier se concentrou na situação social e na política interna do país. Em 2018, ele chegou a falar de outros países, mencionando os protestos na França, a política externa dos EUA e as preocupações com o Brexit. Nesta segunda-feira (23/12), no entanto, ele só falou da Alemanha. E pela primeira vez mencionou o problema do antissemitismo no país.
Ele falou de um dos momentos mais dramáticos deste ano na Alemanha: o assassinato de duas pessoas em Halle, no leste do país, cometidos por um extremista de direita que pretendia cometer um massacre numa sinagoga da cidade durante o feriado judaico do Yom Kippur. O terrorista só não conseguiu entrar na sinagoga, que abrigava 50 pessoas, por causa de uma porta de madeira especialmente reforçada. "É um milagre que ela tenha resistito e que mais pessoas não tenham sido vítimas desse brutal ataque antissemita além das duas que foram assassinadas”, disse Steinmeier.
A porta de Halle
Um dia após o ataque, em outubro, o presidente federal da Alemanha já havia permanecido em frente a essa porta de madeira, visivelmente emocionado. Ele visitou a sinagoga, conversou com membros da comunidade e homenageou as duas vítimas do ataque.
Em seu discurso de Natal, Steinmeier usou a porta de madeira – que provavelmente vai se tornar um memorial – como um símbolo: "Nós somos fortes e nos defendemos? Somos suficientemente unidos e solidários?” A pergunta foi dirigida a todos os habitantes da Alemanha. Há alguns dias, Steinmeier também visitou uma organização da comunidade judaica de Berlim. Na ocasião, destacou a responsabilidade de todos os habitantes em combater o antissemitismo. "Vocês são a resposta. Todos vocês”, disse.
Uma exortação veemente pela defesa da democracia costuma ser o ponto principal dos discursos presidenciais na Alemanha, que são tradicionalmente transmitidos em cadeia nacional na antevéspera do Natal.
Combater o racismo
Steinmeier também mencionou outros temas que devem fazer parte de discussões acaloradas: eleições e resultados eleitorais, clima e mudança climática, o futuro da Europa, o estado da unidade alemã 30 anos após a queda do Muro de Berlim.
"São tempos muito políticos esses que vivemos. E, em minha opinião, não se pode dizer que não há muita liberdade de expressão. Pelo contrário, há muito tempo não havia tanto debate”.
De acordo com o presidente, é importante se envolver. Steinmeier mencionou exemplos: colocar-se ao lado dos fracos quando houver perseguição, posicionar-se quando minorias são insultadas e quando forem ouvidas frases racistas –seja na escola ou no bar – e combater o racismo e ódio nas redes sociais.
O chefe de Estado também destacou o mérito do trabalho voluntário e de coesão das comunidades e agradeceu o trabalho dos policiais e dos trabalhadores da área da saúde.
"Nós precisamos de democracia”
"Todos vocês são parte da democracia”, lembrou Steinmeier. E ele lembrou que isso envolve participar politicamente de manifestações, da política municipal ou da vida partidária. "Todos vocês tem uma parte da Alemanha em mãos”, disse, afirmando ainda que isso une a todos, sem distinção.
Steinmeier também disse que uma forma de inspiração e orientação pode ser a memória da "incrível coragem” do povo da Alemanha Oriental, que 30 anos atrás, derrubou o Muro de Berlim e proporcionou que reunificação fosse possível. "Nós precisamos de democracia, mas acho que no momento a democracia precisa especialmente de nós.”
Segundo o presidente, para isso é necessário confiança, fatos, sabedoria, decência e solidariedade.
Isso tudo, segundo o presidente, porque a unidade, liberdade e democracia nem sempre são garantidas. Ao final da mensagem, Steinmeier mencionou uma frase da história bíblica sobre o nascimento de Jesus: "Não tema!”, disse, desejando ainda a todos coragem e confiança em 2020.
JPS/dw
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