A lista do terror está ficando cada vez mais longa: no estado alemão de Hessen, um suposto neonazista matou o político local Walter Lübcke; e na cidade de Halle, na Saxônia-Anhalt, um atentado fracassado à sinagoga repleta de fiéis fez duas vítimas.
Todos os dias, em algum lugar da Alemanha, cidadãos são insultados e agredidos devido à cor de sua pele, sua religião ou orientação sexual. O Departamento Federal para a Proteção da Constituição (BfV), serviço secreto interno alemão, classifica agora 12,7 mil extremistas de direita como de orientação violenta.
Em comparação: em 2011, quando foi descoberto o grupo terrorista Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU), que cometia assassinatos em todo o país, havia apenas 9,8 mil.
Por falar da NSU: "fracasso estatal completo" foi a conclusão devastadora de uma comissão de investigação do Parlamento alemão. O foco das críticas recaiu, com razão, sobre a polícia e o BfV, que por muito tempo não quis ver qualquer motivação racista por trás da série de assassinatos e atentados, apesar das provas claras.
Autoridades e políticos prometeram melhorias. Mas as trocas de pessoal nas chefias dos órgãos de segurança e as mudanças organizacionais se mostraram fundamentalmente ineficazes.
As opiniões divergem quanto às razões e os responsáveis por essa ineficácia. Uma explicação é certamente a longa fixação no terrorismo de cunho islâmico. Após o atentado a um mercado de Natal de Berlim, em dezembro de 2016, as autoridades de segurança devem ter visto confirmada, sua avaliação da situação, de maneira francamente macabra. No entanto, elas têm que aceitar a acusação de negligenciar a ameaça proveniente da extrema direita.
No caso do serviço secreto doméstico alemão, os críticos viram uma conexão com Hans-Georg Maassen, ex-presidente do órgão, substituído em 2018. Alguns o acusaram de simpatizar com a legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que descambava cada vez mais para a cena nazista e de ultradireita.
Fundada seis anos atrás, no início de 2019 a AfD foi parcialmente declarada pelo sucessor de Maassen, Thomas Haldenwang, como "caso suspeito" – um estágio preliminar para a vigilância pelos órgãos de inteligência.
O mais tardar desde essa compreensível decisão, não há mais motivo para duvidar da determinação do BfV na luta contra o extremismo de direita. Pois está claro que o serviço secreto doméstico alemão considera alguns líderes e tendências da AfD como agitadores ideológicos.
Finalmente lá se vão os dias em que o perigo da direita era minimizado com referências a supostos infratores individuais. "Para mim, existem agora casos individuais em demasia", aponta Haldenwang, presidente do BfV, com clareza tão digna de nota quanto atrasada.
No entanto, falar claramente é uma coisa, agir de acordo é outra. Mas Haldenwang merece elogios também nesse aspecto: desde meados do ano corrente, novas equipes do BfV se ocupam do extremismo de direita. Com 300 vagas adicionais no órgão de segurança, passará a ser fortalecida a expertise científica, entre outras.
Aparentemente também pertence ao passado a falsa consideração concedida aos extremistas de direita nas próprias fileiras do BfV. O mesmo se aplica ao Departamento Federal de Investigações Criminais (BKA), cujo presidente Holger Münch segue o mesmo caminho de seu colega da inteligência doméstica alemã.
Em breve, um "retrato da situação do extremismo de direita" deverá abordar todo o serviço público na Alemanha, com seus cerca de 4,7 milhões de funcionários. Isso inclui a Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha), que foi motivo de pavorosas manchetes em 2017, com a suposta rede extremista de direita do soldado Franco A.
No entanto, é um bom sinal que se ouçam, das autoridades de segurança alemãs, tons cada vez mais autocríticos. Quando a polícia e o BfV se ocupam dos próprios erros, seus esforços contra todos os inimigos da democracia soam muito mais credíveis – algo que fez falta durante muito tempo. Por vezes, os extremistas de direita deviam se sentir até encorajados diante da pouca – na pior das hipóteses, nenhuma – pressão de perseguição.
O ministro alemão do Interior, Horst Seehofer, responsável pela polícia e pelo serviço secreto doméstico do país, resumiu: "Era preciso ter levado isso a sério mais cedo!" Ele se referia à "trilha de sangue" iniciada pelo grupo terrorista NSU em 2000 e que infelizmente não deverá terminar com o ataque à sinagoga em Halle em 2019.
Mas todos estão mais atentos no setor por que ministro do Interior é politicamente responsável. As autoridades subordinadas a Seehofer estão finalmente vigilantes para com o extremismo de direita.
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