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9º dia de guerra é marcado por incêndio em usina nuclear

5 de março de 2022

Maior usina da Europa pegou fogo após ataques na cidade de Zaporíjia, o que gerou pânico devido a um possível desastre nuclear. Putin assinou lei que intensifica a censura na Rússia, e Otan prevê dias mais difíceis.

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Incêndio na usina nuclear de Zaporizhzhia
Incêndio na usina nuclear de Zaporizhzhia; fogo já foi extintoFoto: Zaporizhzhya NPP/REUTERS

O nono dia da invasão russa em território ucraniano, nesta sexta-feira (04/03), começou com um incêndio que causou pânico na Ucrânia, na Europa e no mundo devido à possibilidade de um desastre nuclear. A maior usina nuclear do continente, localizada na cidade de Zaporíjia, no sudeste da Ucrânia, pegou fogo após ser alvo de bombardeios russos.

O incêndio começou entre 3h e 4h no horário local e foi controlado em torno de duas horas e meia depois. Não houve vítimas.

No Twitter, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, escreveu: "Se explodir, será dez vezes maior que Chernobyl! Os russos devem imediatamente para os ataques, permitir [o trabalho dos] bombeiros, estabelecer uma zona de segurança."

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Mariano Grossi, afirmou que não houve liberação de radiação após o incêndio.

A usina de Zaporíjia gera 25% da eletricidade da Ucrânia. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, pediu que Moscou pare com o que chamou de "terrorismo nuclear".

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou com Zelenski sobre o incêndio. A conversa foi informada pela Casa Branca em uma série de tuítes. Segundo as postagens, Biden "se uniu ao presidente Zelenski para pedir à Rússia" que interrompesse suas atividades militares no local e permitisse que os bombeiros e equipes de emergência pudessem acessar a área.

A secretária de Energia dos EUA, Jennifer Granholm, disse que conversou com seu homólogo ucraniano e que os reatores da usina de Zaporíjia são protegidos por "estruturas robustas de contenção" e foram "desligados com segurança".

Pela manhã, autoridades ucranianas confirmaram que forças russas assumiram o controle da usina nuclear: "Funcionários operacionais estão monitorando a condição das unidades de energia", afirmaram autoridades regionais nas redes sociais, acrescentando que a prioridade era garantir que as operações prosseguissem de acordo com os requisitos de segurança.

As autoridades informaram ainda que nenhum vazamento de radiação foi detectado após as chamas. "Alterações na situação da radiação não foram registradas."

Já no fim da manhã, em um pronunciamento, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, pediu aos russos que protestem contra a ocupação da usina.

"Povo russo, eu apelo a vocês, como isso é possível? Afinal, lutamos juntos em 1986 contra a catástrofe de Chernobyl", destacou Zelenski.

O embaixador da Rússia nas Nações Unidas, Vassily Nebenzia, negou que as forças russas tenham bombardeado a usina nuclear.

"Essas declarações são simplesmente falsas", afirmou Nebenzia ao Conselho de Segurança da ONU. "Tudo isso faz parte de uma campanha sem precedentes de mentiras e desinformação contra a Rússia."

Zelenski: "A Europa precisa acordar"

Após o ataque e a tomada russa da usina de Zaporíjia, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse que "a Europa precisa acordar". A afirmação foi feita em um vídeo no Telegram.

"Estou me dirigindo a todos os ucranianos, a todos os europeus e a todos que conhecem a palavra Chernobyl", disse o líder ucraniano. "Dezenas de milhares tiveram que ser retirados do local, e a Rússia quer repetir isso – e já está repetindo –, mas [de maneira] seis vezes maior."

Zelenski acrescentou que a Ucrânia tem 15 reatores nucleares e que "se houver uma explosão, é o fim para todo mundo". "Não deixem a Europa morrer em uma catástrofe nuclear", concluiu.

Também nesta sexta-feira, a embaixada da Ucrânia em Berlim solicitou ao governo alemão o fornecimento de tanques e navios de guerra para Kiev enfrentar a invasão russa.

Em nota, o órgão afirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, iniciou uma "guerra de aniquilação" contra a Ucrânia.

Na noite de sexta, durante protestos em várias cidades europeias, como Frankfurt, Paris e Praga, Zelenski apareceu em um vídeo e mandou uma mensagem para os manifestantes.

No vídeo, ele diz que "se a Ucrânia cair, todos cairão. Não fiquem em silêncio, tomem as ruas, apoiem a Ucrânia".

A imagem mostra o presidente russo Vladimir Putin sentado com os braços sobre uma mesa. Na mão direita, ele segura uma caneta. Putin veste terno e grava na cor azul-marinho, e uma camisa branca. Ao fundo, há uma bandeira da Rússia. Ele olha fixamente para frente, com semblante sério.
Assinatura da nova lei fez com que diversos veículos de comunicação decidissem suspender seus trabalhos na RússiaFoto: Andrei Gorshkov/Sputnik/AP/picture alliance

Rússia aprova nova lei contra "fake news" sobre guerra

O parlamento russo aprovou uma lei que vai impor penas que de até 15 anos de prisão para quem disseminar "informações falsas" sobre a guerra na Ucrânia.

Emendas também foram aprovadas para multar ou prender quem reivindique sanções contra a Rússia.

Qualquer pessoa que utilizar os termos "guerra" ou "invasão" em relação à incursão russa em solo ucraniano pode ser condenada a até 15 anos de prisão. Conforme o Kremlin, o que está ocorrendo na Ucrânia é uma "operação militar especial".

Ao abrir a sessão, o presidente do parlamento, Vyacheslav Volodin, criticou as mídias sociais estrangeiras depois que o Facebook ficou brevemente inacessível na Rússia nesta sexta-feira.

"Todas essas empresas de TI, começando com o Instagram e terminando com as outras, estão sediadas nos Estados Unidos da América. É claro que são usadas como armas. Elas carregam ódio e mentiras. Precisamos nos opor a isso", declarou Volodin.

As ações contra mídias sociais mantêm a linha de restrições já impostas também a veículos de comunicação, como a britânica BBC, a americana Voice of America, a rádio Free Europe/Radio Liberty – que tem sede em Praga, na República Tcheca, mas é financiada pelo governo dos EUA –, o website Meduza, da Letônia, além da Deutsche Welle.

Conforme Vyacheslav Volodin, porta-voz da câmara baixa do parlamento russo, a medida "vai forçar aqueles que mentem e fazem declarações que geram descrédito a nossas forças armadas a sofrer punições severas. Quero que todos compreendam, e que a sociedade compreenda, que estamos fazendo isso para proteger nossos soldados e oficiais, e para proteger a verdade", afirmou Volodin.

A imagem mostra o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, durante discurso sobre a guerra na Ucrânia. Ele veste terno escuro e uma camisa branca. Esta em pé, com as mãos abertas. O fundo azul tem uma série de símbolos da Otan, além da bandeira da organização, que está à esquerda na foto.
Para Stoltenberg, não é possível, para a Otan, implementar uma zona de exclusão no espaço aéreo ucranianoFoto: Olivier Douliery/AFP/Getty Images

Otan diz que "pior ainda está por vir"

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou nesta sexta-feira que "os próximos dias serão provavelmente piores, com mais mortes, mais sofrimento e mais destruição, enquanto as Forças Armadas russas trazem armamentos ainda mais pesados e continuam os ataques em todo o país".

Ele também disse que a aliança militar do Atlântico Norte não imporá uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, mesmo depois de pedidos do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.

"O único jeito de implementar uma zona de exclusão aérea é enviar caças da Otan para o espaço aéreo ucraniano, e impor a medida por meio da derrubada de aviões russos", explicou, após uma reunião de emergência com os ministros do Exterior dos Estados-membros.

Kiev havia pedido a medida para ajudar a impedir os bombardeios a várias cidades ucranianas.

"Se fizéssemos isso, acabaríamos com algo que poderia levar a uma guerra total na Europa, com o envolvimento de mais países e com muito mais sofrimento humano. Esta é a razão pela qual tomamos essa dolorosa decisão", concluiu Stoltenberg.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, criticou a Otan pela recusa em impor a zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, uma medida que Kiev vem solicitando há dias para impedir o avanço da Rússia no país.

ONU vai investigar violações aos direitos humanos

O Conselho de Direitos Humanos da ONU, o principal órgão jurídico da entidade, aprovou por ampla maioria a criação de um painel de três especialistas que vão supervisionar possíveis violações aos direitos humanos na Ucrânia, em meio à invasão russa.

A resolução, proposta por diversas nações ocidentais e outras que criticaram a intervenção militar de Moscou, foi aprovada por 32 votos a 2, com 13 abstenções. Somente Rússia e Eritreia votaram contra. O Brasil apoiou a resolução, e a China foi um dos países que se abstiveram.

O resultado serve como evidência da ampliação do isolamento internacional da Rússia. As decisões do Conselho não têm efeito jurídico vinculativo, mas enviam mensagens políticas importantes e podem resultar na abertura de inquéritos.

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