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"2019 será o ano da libertação da Venezuela"

8 de março de 2019

Influente política da oposição venezuelana, María Corina Machado afirma em entrevista à DW que governo Maduro está com os dias contados. "Vamos deixar para trás um socialismo que não funcionou", diz.

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Manifestantes reunidos em Caracas com bandeira da Venezuela
Manifestantes reunidos em Caracas em apoio a Guaidó, em 2 de fevereiroFoto: Getty Images/AFP/F. Parra

María Corina Machado é a fundadora do partido de orientação liberal-republicana Vente Venezuela e é considerada a mais influente política da oposição na Venezuela.

Em entrevista à DW, ela disse que o governo de Nicolás Maduro está no fim e que "quanto tempo Maduro ainda vai ficar no poder não será medido em dias, semanas ou meses, mas em relação ao número de mortos".

A política de oposição afirmou também que 2019 vai ser um ano decisivo para seu país. "Para a Venezuela, 2019 vai entrar para a história como o ano da libertação."

Deutsche Welle: Até quando Nicolás Maduro vai se manter no poder? Dias, semanas ou meses?

María Corina Machado: Vai acabar no momento em que, para Maduro e seus seguidores, se torne mais caro ficar do que ir embora. Na minha opinião, quanto tempo Maduro ainda vai ficar no poder não será medido em dias, semanas ou meses, mas em relação ao número de mortos. O mundo precisa entender essa urgência. Todos os dias, venezuelanos morrem de fome, por falta de medicamentos ou pela violência estatal.

Mas os militares, que são a chave do conflito, continuam a se ater a Maduro.

 Foto de María Corina Machado
"O sistema mafioso liderado por Maduro entrará em colapso", afirma María Corina MachadoFoto: Privat

Não, a maioria dos militares venezuelanos rejeita Nicolás Maduro. Eles sabem muito melhor do que qualquer outra pessoa na Venezuela em que tipo de sistema mafioso estamos vivendo agora.

Os militares sabem que aqueles que não se envolvem em atividades ilegais voltam para casa e encontram uma geladeira vazia. E eles também sabem que estão mal equipados, mal treinados e mal pagos. Os soldados sofrem tanto quanto a população venezuelana.

Nações estrangeiras, especialmente os Estados Unidos, estão tentando fazer pressão sobre os militares para que mudem de lado e se juntem ao autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó. O que países como a Alemanha poderiam ou deveriam fazer?

Muito. Entre os europeus, muitos podem pensar que a Venezuela fica muito longe e o que acontece lá não tem impacto na Europa. Mas o crime organizado, a lavagem de dinheiro e as transações ilegais têm sim muitas consequências. Isso também coloca em risco as democracias europeias e a segurança do Ocidente.

Os países europeus devem instar Maduro a entender que seu tempo chegou ao fim, especialmente uma nação como a Alemanha, que vivenciou a tragédia do totalitarismo no próprio país. A Alemanha tem uma grande autoridade moral, não apenas como líder na Europa, mas em todo o Ocidente.

Esses países rejeitam completamente o governo de Maduro. Você diria que seu antecessor, Hugo Chávez, fez tudo errado com sua Revolução Bolivariana?

Hugo Chávez impulsionou a divisão na sociedade venezuelana, destruindo instituições democráticas e deixando redes criminosas entrar no país. Ele promoveu o maior empobrecimento da história da Venezuela e escolheu Nicolás Maduro como seu sucessor. E quando todas as cartas estiverem sobre a mesa, veremos que ele foi o principal culpado pela pilhagem de 600 milhões de dólares, a maior da história mundial.

Cerca de 20% dos venezuelanos ainda têm opiniões completamente diferentes. Como os chavistas devem ser integrados às futuras políticas e à sociedade da Venezuela?

A cada dia é menor o número de apoiadores. Muitas pessoas têm até medo de participar de uma pesquisa de opinião. Pois, para conseguir uma bolsa-alimentação, que às vezes é a única coisa que uma família tem, depende-se da lealdade ao regime.

Se o regime suspeitar que alguém o desaprova, ele não terá essa bolsa-alimentação. É por isso que tenho certeza que hoje na Venezuela, muito menos de 20% se identificam com esse sistema.

No que diz respeito à integração, é nosso dever que a Venezuela, no futuro, promova a inclusão de cada venezuelano, por mais divergentes que sejam suas ideias, também para iniciar um processo de reconciliação. Mas primeiramente, tem que haver justiça. Nós não queremos vingança, mas também nenhuma impunidade. Somente quando houver arrependimento e justiça, pode haver reconciliação e perdão.

Você apoiaria Guaidó como presidente?

Desde o primeiro dia, eu disse que Juan Guaidó cumpriu seu dever e responsabilidade quando se autonomeou presidente interino aplicando o artigo 233. O próximo passo será um governo de transição que estará diante de imensos desafios, ou seja, lidar com uma crise econômica, uma catástrofe humanitária e uma crise de segurança interna.

Juan Guaidó precisará de todo o apoio, porque tem que ser um governo de transição com ampla participação pública, incluindo aqueles que antes apoiavam Maduro e Chávez. Mas acima de tudo, esse governo de transição deve criar as condições necessárias para eleições livres e seguras.

Ou seja, nas eleições presidenciais, as cartas serão embaralhadas novamente. Como você descreveria a sua relação com Guaidó?

Juan e eu nos conhecemos na Assembleia Nacional, quando éramos membros do Congresso. Estávamos então na mesma bancada de deputados independentes. Acima de tudo, sua coragem me impressiona. Juan sabe, e tenho reiterado isso publicamente, que ele pode contar comigo para formarmos, juntos, o caminho da Venezuela em direção ao futuro. Vamos deixar para trás os 20 anos obscuros de socialismo, um socialismo que não funcionou aqui ou em nenhum lugar do mundo.

Então, qual a probabilidade de você, Leopoldo López, Antonio Ledezma e Juan Guaidó trabalharem juntos?

No momento, já estamos trabalhando juntos e continuaremos a fazê-lo. Mas é óbvio que existem diferenças ideológicas entre nós. Desejo uma Venezuela em que essas diferenças sejam mantidas de maneira respeitosa e aberta.

O ano de 2019 pode ser decisivo para o futuro da Venezuela. O que será lido sobre este ano mais tarde nos livros de história?

Para a Venezuela, 2019 vai entrar para a história como o ano da libertação. O sistema mafioso liderado por Maduro entrará em colapso; o sistema que trouxe corrupção, pobreza e morte ao país. A Venezuela deixará para trás essa era e entrará numa fase do direito ao crescimento, ao livre desenvolvimento e à liberdade.

E se isso não acontecer, como seria o cenário negativo para 2019?

O cenário negativo seria termos que esperar até o fim deste ano.

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