1953: Levante popular na antiga Alemanha Oriental
Oito anos após o final da Segunda Guerra Mundial, a então República Democrática Alemã (RDA) ainda enfrentava graves problemas econômicos. Enquanto a Alemanha Ocidental era reconstruída com a ajuda dos Aliados ocidentais, o Alemanha Oriental, controlada pelos soviéticos, sucumbia sob uma grave crise de abastecimento.
Um ano antes, o secretário-geral do Partido Socialista Unitário (SED), Walter Ulbricht, havia anunciado a "construção planejada do socialismo" segundo o modelo soviético. Os pesados pagamentos de reparações de guerra e o estímulo à indústria pesada causaram uma crise de abastecimento, agravando a escassez de gêneros básicos como manteiga, carne, frutas e verduras, que só podiam ser adquiridos através de senhas de racionamento.
O florescimento econômico da Alemanha Ocidental e a insatisfação com os rumos políticos no Leste alemão levaram muitos a voltarem as costas à RDA. Em 1952, 180 mil pessoas haviam deixado o país. No primeiro semestre de 1953, foram 226 mil.
Mesmo assim, o governo de Berlim Oriental não mudou o curso político e econômico. Em abril de 1953, ovos, carne e doces tiveram seus preços aumentados. O apogeu deste desrespeito aos cidadãos alemães-orientais aconteceu em maio de 1953, com a imposição ao trabalhador de produzir 10% a mais na mesma carga horária.
A morte do ditador soviético Josef Stalin em março de 1953 levou à insegurança e lutas pelo poder entre os líderes de vários países da Europa Oriental.
O próprio chefe de governo alemão-oriental na época, Otto Grotewohl, havia reconhecido a situação de seu país ao criticar que "quando pessoas se distanciam de nós, se além da brecha estatal e econômica também são dilaceradas as relações humanas entre os alemães, então esta política está errada".
Para atrair de volta os agricultores, comerciantes e trabalhadores que haviam emigrado para a Alemanha Ocidental, foi-lhes acenado com a possibilidade de devolução das propriedades.
A Justiça, cujas sentenças arbitrárias haviam levado à duplicação da população carcerária no período de um ano, seria encarregada de revisar suas decisões. Até mesmo com a Igreja os responsáveis pelo governo pretendiam entrar em acordo. Só o aumento salarial continuou tabu, o que foi interpretado como provocação pelos trabalhadores, que responderam com protestos.
Diante do prédio do governo em Berlim, no dia 16 de junho, os trabalhadores da construção civil convocaram uma greve geral para o dia seguinte. O apelo foi divulgado dentro da Alemanha Oriental e no estado vizinho, através da imprensa.
O clima era de euforia, o regime já era visto como derrotado. Em alguns locais, os insurgentes chegaram a tomar o poder. Mais de um milhão de pessoas participaram de manifestações e greves em 700 cidades e comunidades da RDA.
A revolta por melhores salários transformou-se rapidamente em um levante pela liberdade, democracia e unidade da Alemanha. Em faixas e cartazes, os manifestantes reivindicavam melhores condições de vida, a renúncia do governo da RDA, eleições livres e a reunificação do país.
A liderança política da RDA já havia perdido o controle sobre a situação quando a força de ocupação soviética declarou estado de emergência. Tanques militares invadiram o principal ponto de concentração de manifestantes, na praça Potsdamer Platz, em Berlim.
Os acontecimentos foram narrados ao vivo pelos repórteres que acompanharam as dramáticas cenas de 17 de junho de 1953. A violência militar reprimiu o levante dos alemães-orientais, deixando um saldo de centenas de mortos e feridos. Cerca de dez mil manifestantes e membros do comitê de greve foram detidos. Mais de 1.600 participantes do levante cumpriram, em parte, longas penas de prisão.
Algumas semanas depois, o Bundestag (câmara baixa do Parlamento da República Federal da Alemanha) proclamou o dia 17 de junho como Dia da Unidade Alemã. Após a reunificação, em 1990, este feriado passou a ser comemorado em 3 de outubro.
Para evitar futuras rebeliões e detectar eventuais insurgentes, a então Alemanha Oriental ampliou as competências de seu serviço secreto (Stasi), que passou a vigiar a vida dos alemães-orientais.
Demoraria 36 anos para que a população voltasse a reunir forças para se rebelar contra o regime. Desta vez, em 9 de novembro de 1989, derrubaria o Muro de Berlim. A diferença em relação a 1953 é que o poder em Moscou estava nas mãos do reformista Mikhail Gorbachov, que preferiu deixar os tanques nas casernas.
Com o fim da RDA, começou a derrocada do bloco socialista da Europa oriental, culminando com a dissolução da União Soviética.
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