É necessário repensar a forma de lutar contra o regime em Angola, diz especialista
22 de dezembro de 2014Na manifestação anti-governamental, prevista para o último sábado (20.12.14), em Luanda, alguns jovens ativistas cívicos angolanos pretendiam exprimir os seus descontentamentos contra as agressões policiais.
Mas o resultados foram novas prisões de manifestantes. No total, foram detidos pouco mais de 10 jovens, que seriam libertados horas depois.
Entre os detidos, estava o ativista Nito Alves, que relatou à DW-África o acontecimento.
"Baixaram a ordem mais uma vez que tinham que prender os manifestantes. A polícia bateu-nos. Aleijaram a minha colega Laurinda Gouveia, aleijaram o Dagomiro Intelectual. Fomos totalmente espancados mais uma vez. Eu próprio estou com um ferimento no rosto e dor no corpo também," conta.
O ativista, apelou "ao povo angolano, aos partidos da oposição e também 'a essa gente que detém o poder' que o povo é a maioria e ainda vamos ganhar esta causa."
Descontentamento também nas províncias
Enquanto a Polícia Nacional reprimia, em Luanda, uma manifestação, na província do Huambo, surgiam igualmente relatos de descontemento. Em entrevista à Rádio Despertar, o jurista Marcos Chitanga, não só condenou o uso da força da polícia contra os manifestantes, como também falou de uma certa saturação no seio da população local contra as políticas do Governo de Angola.
"Nós também aqui temos a nossa panela já a ferver. Basta só que a distribuição continue a ser feita como está a ser feita até agora, ela transbordará," declarou.
Necessidade de novas estratégias
Entretanto, sobre as constante proibições das manifestações anti-governamentais por parte das autoridades angolanas, o jornalista e ativista dos direitos humanos, Domingos da Cruz, acredita ser necessário pensar numa outra forma de luta contra o regime angolano para que os objetivos preconizados possam ser alcançados.
"Infelizmente [as manifestações] não têm resultado no objetivo para o qual elas têm sido realizadas. E, neste sentido, parece-me que, efetivamente, deve-se necessariamente repensar essa estratégia de realização de manifestações," considera.
"É louco aquele que, permanentemente usando das mesmas táticas, espera resultados diferentes. Pelo que, inevitavelmente, há a necessidade de repensar as estratégias e, portanto, isso aplica-se perfeitamente ao movimento," pondera.
Para tal, Domingos da Cruz sugere aos movimentos contestários que "estudem, parem, pensem".
"Esse pensar pressupõe mesmo pensar o que dizem os pensadores sobre queda de regime, sobre erosão de regimes autoritários," sugere.