Que estratégia devem seguir os jovens revolucionários em Angola?
12 de dezembro de 2014Em Luanda, as autoridades impediram a realização de mais uma manifestação no último domingo (07.12). Desta vez, os ativistas pretendiam marchar pelas ruas da capital angolana para apelar ao ''fim da violência policial'' contra os jovens manifestantes.
A iniciativa, que contou com o apoio de várias organizações de defesa dos direitos humanos, começou com a detenção de vários ativistas logo nas primeiras horas de domingo. As forças policiais levaram os manifestantes até à casa do ativista Manuel Nito Alves. Horas mais tarde, os jovens acabaram por ser postos em liberdade.
Na página do Facebook da DW (Português para África) não faltaram incentivos dirigidos aos jovens ativistas. "Continuem com as manifestações. Sem isso nunca haverá liberdade nem prosperidade. Essa é a única via para acabar com um governo tirano", sublinha Geraldo Tomé Abreu.
"Força jovens angolanos. Não é fácil montar uma revolução", encoraja Kleimor Romão Belo, enquanto Estêvão Ferreira destaca "a coragem dos jovens angolanos".
Estratégias de luta
Que alternativas restam, então, aos jovens angolanos para exporem as suas insatisfações? Em entrevista à DW África, o escritor e jornalista Domingos da Cruz defende que ''a solução para Angola'' passa por uma "solução popular que seja capaz de fazer ruir o edifício da ditadura instalada no país".
"A única saída é queixarem-se à comunidade internacional, para que venha ajudar na proteção dos manifestantes à serem protegido, em vez de serem agredidos pelas autoridades policiais", sugere também Francismar Hex Kamota no debate iniciado na página do Facebook da DW (Português para África).
Na opinião de João Lourenço, "Angola precisa de uma revolução séria". Para Efrayme Allbert, os ativistas "devem criar movimentos fortes com carácter partidário", considera, por sua vez, David Walinga Muenho. "Os líderes da oposição também devem aderir às manifestações", defende também David Walinga Muenho.
Sapeck Hercúleo insiste que as manifestações são "a solução para a liberdade do povo e para haja boa governação, justa e sem esconder opiniões. Estamos cansados de mentiras e do roubo da riqueza."
Fernando Manuel Cavalo espera que "Angola se torne num país democrático", mas para isso "é necessário um Governo capaz de dar a liberdade ao seu povo."
Ativistas "abertos ao diálogo"
A JMPLA, braço juvenil do partido no poder, anunciou recentemente que quer realizar um debate "franco e aberto" com os ativistas do Movimento Revolucionário, promotores de várias organizações anti-Governo.
Em declarações à DW África, o ativista Adolfo Campos, um dos rostos do movimento contestatário ao regime, revelou que o Movimento Revolucionário está aberto ao diálogo. No entanto, só pretendem debater os fundamentos das manifestações com as figuras de topo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
Os jovens ativistas consideram que o líder da JMPLA, Tomás Bica, não tem bagagem suficiente para responder às questões que lhe serão colocadas.
Adolfo Campos adiantou também que chegou a hora de delinear “métodos mais eficientes” de luta contra o Governo do Presidente José Eduardo dos Santos. "A polícia não está a trabalhar para o povo, mas sim para um partido, que é o MPLA", critica o ativista.
Agressões constantes
Recentemente, defensores dos direitos humanos em Angola mostraram-se chocados com as agressões de que foi vítima Laurinda Gouveia. A violência contra a jovem de 26 anos foi atribuída a agentes da polícia e dos serviços secretos por ela ter participado numa manifestação convocada para 22.11 pelo Movimento Revolucionário.
A acção de protesto que visava exigir justiça contra os autores da morte do militante da CASA-CE Manuel Hilberto Ganga e pedir a demissão do Presidente José Eduardo dos Santos, no poder há 35 anos.
A agressão sofrida pela jovem ativista é apenas uma mostra do que acontece em Angola, disse à DW África o presidente da Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD), António Ventura, por ocasião do Dia Internacional dos Direitos Humanos (10.12).
Nesse mesmo dia, o secretário de Estado para os Direitos Humanos de Angola, António Bento Bembe, pedia aos cidadãos do país para terem mais responsabilidade ao exercer a liberdade de reunião e manifestação previstas na constituição.