Vários mortos nas manifestações em Moçambique
2 de novembro de 2024Moçambique acordou este sábado para um conjunto de protestos em várias zonas do país que culminarem na morte de, pelo menos, 7 pessoas.
A atuação violenta da Polícia da República de Moçambique (PRM) estende-se a várias regiões do país. Em Namialo morreram pelo menos 4 pessoas e em Nampula há registo de três óbitos, ambas as localidades na província de Nampula, avança o Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD).
Segundo o CDD, a PRM "continua a violar o direito à manifestação do povo que protesta por justiça eleitoral em Moçambique".
Também a marcha pacífica levada a cabo pela comunidade islâmica na baixa da cidade de Maputo, em Moçambique, terminou em tumultos com a intervenção da PRM, que usou gás lacrimogéneo para dispersar a população.
Nas redes sociais, há vários testemunhos a darem conta de disparos de balas reais, não havendo porém confirmação dessa informação por parte da polícia.
Já na Beira, centro do país, a manifestação reuniu cerca de 5.000 pessoas. Bastante audível, o grupo de manifestantes percorreu várias ruas da cidades exigindo justiça eleitoral.
FRELIMO "contra qualquer tipo de violência"
Entretanto Celso Correia, que é dirigente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, e também ministro da Agricultura, afirmou este sábado que o direito ao protesto deve ser conciliado com outros direitos fundamentais, face às manifestações pós-eleitorais no país.
"A FRELIMO defende o princípio de paz e valores de paz. Estamos contra qualquer tipo de violência. Acreditamos que os direitos de todos os cidadãos têm que ser salvaguardados, tanto o direito de protesto como também o direito à vida, à livre circulação", disse aquele membro da comissão política da FRELIMO e chefe da brigada central de assistência à província de Inhambane.
Em declarações aos jornalistas após um encontro com jovens das cidades de Inhambane e Maxixe, no sul de Moçambique, Celso Correia garantiu que a FRELIMO deseja que o processo eleitoral decorra "com o máximo de transparência possível" e "que se valorizasse o trabalho das instituições de uma forma transparente e credível".
"Para também convencer o grupo de moçambicanos que ainda não tem confiança nos resultados. É muito importante que o processo de apuramento possa ser o máximo transparente possível para termos a paz social, que é muito importante para a construção de Moçambique, na certeza e confiantes de que, de facto, o nosso candidato [a Presidente da República] Daniel Francisco Chapo tem esta ponderação para, depois de um processo eleitoral conseguir trazer a coesão entre o povo moçambicano", disse o influente dirigente da FRELIMO.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) anunciou em 24 de outubro a vitória de Daniel Chapo, apoiado pela FRELIMO, partido no poder desde 1975, na eleição a Presidente da República de 09 de outubro, com 70,67% dos votos.
Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos, extraparlamentar), ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas afirma não reconhecer estes resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.