Violência contra separatistas alastra-se nos Camarões
6 de dezembro de 2017Na estrada Kumba-Mamfé, na região anglófona dos Camarões, no sul do país, o movimento diminuiu drasticamente. É por meio desta estrada que os bens comerciais da Nigéria são trazidos para os Camarões e vice-versa.
A comerciante Takem Ethel, de 32 anos, diz que muitos negócios da região foram suspensos desde que o Presidente camaronês, Paul Biya, declarou guerra aos grupos separatistas no final da semana passada.
"O número de postos de controlo é simplesmente insustentável. Como o Presidente anunciou que estava lutando contra terroristas, é como se ele tivesse libertado seus leões famintos, chamados militares, da sua cova. Aqueles que querem morrer podem viajar. Ainda tenho uma vida pela frente, então não vou me mudar", disse.
A situação é ainda mais tensa nas cidades de Mamfé e Eyumojock, onde pelo menos seis soldados e um polícia foram mortos na semana passada. O Governo dos Camarões diz que muitos combatentes separatistas estavam a ser treinados naquelas cidades e na fronteira com a Nigéria. Mamfé também é da cidade natal de Julius Ayuk Tabe, o homem que diz ser o primeiro Presidente da Ambazónia, o nome dado ao Estado que os separatistas afirmam ter criado.
Peter Ayuk, residente de Mamfé, diz que a maioria dos jovens está a fugir da forte presença dos militares e que muitos deles não conseguem localizar os seus parentes.
"A aldeia do atual Presidente está em chamas. Os militares estão a queimar casas. Todos os jovens estão escondidos nas florestas. Não sei do meu pai e da minha mãe, não os vejo desde que os militares começaram a perseguir-nos. Por favor, as pessoas devem ajudar-nos. Os jovens estão a ser mortos. Alguns são levados e os corpos deixados no mato", lamentou.
Militares negam denúncias
Nyeke George Likiye, membro da sociedade civil no sudoeste dos Camarões, escreveu ao Governo denunciando que as tropas estão a cometer atrocidades contra a população. "Eles estão fazendo seu trabalho em proporções excessivas. Algumas prisões são arbitrárias. As pessoas estão sendo torturadas, espancadas. Isso não é correto", diz.
O general Melingui Noma, um dos maiores oficiais dos Camarões, nega as denúncias e afirma que os militares estão a proteger a população.
"Desde que a crise começou, não houve aumento do número de militares nas unidades. Sabemos que, se quisermos superar essa crise, temos que garantir que a população está conosco. Não podemos perseguir as pessoas se quisermos informações delas", sublinhou.
A violência entrou em erupção nos Camarões quando os separatistas iniciaram uma campanha para a independência completa da região anglófona, que foi declarada mais tarde, a 1 de outubro. No entanto, o Presidente Paul Biya rejeitou a declaração de independência e advertiu contra qualquer ideia de dividir o país.