Venda de ações da HCB pode ser "lufada de ar fresco"
21 de maio de 2019É a "maior operação em bolsa" de sempre em Moçambique, disse o presidente do conselho de administração da Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB), Pedro Couto: a HCB lançou esta segunda-feira (20.05) uma operação que culminará com a Oferta Pública de Venda de 7,5% das ações da barragem.
"É positivo", diz Enoque Daniel, um cidadão ouvido pela DW. "Se formos a ver, há tempos, Cahora Bassa não era dos moçambicanos, mas atualmente já pertence aos moçambicanos, que hoje têm essa oportunidade de investirem."
"Podemos desenvolver a barragem de Cahora Bassa", afirma outro cidadão, Zacarias Aisek.
Não é para todos
No total, numa primeira fase, estão disponíveis 680 milhões de ações, que correspondem a um terço dos 7,5% previstos para a venda, a três meticais cada, o equivalente a quatro cêntimos de euro.
Pedro Couto, da HCB, explica que todos os interessados têm de 17 de junho a 12 de julho para passarem a ser sócios desta empresa pública - "os cidadãos e as empresas e instituições nacionais são os únicos elegíveis", acrescenta.
Comprar ações não será algo para todas as bolsas, frisa Miguel Costa e Sá, outro cidadão ouvido pela DW: "é uma oportunidade [apenas] para a população que tem alguma capacidade de investimento".
Ainda assim, Alexandre Bacião, diretor executivo da ProConsumers - Associação para o Estudo e Defesa do Consumidor, considera que é uma iniciativa positiva, "porque, ao fim e ao cabo, os moçambicanos começam já a participar na vida económica de Moçambique, a partir da altura em que estão enquadrados em grandes empresas."
Transparência
O processo será levado a cabo pela Bolsa de Valores de Moçambique, para quem a operação dará um impulso no mercado de capitais no país e é um sinal concreto de empoderamento económico dos moçambicanos.
"Estão acauteladas todas as condições para que a oferta pública das ações seja transparente", afirmou o presidente da Bolsa de Valores, Salimo Valá.
"A pretensão de obter uma elevada dispersão acionista e a procura pela maior inclusividade dos cidadãos vai trazer para a bolsa, prevemos nós, muito mais investidores moçambicanos e, por arrastamento, muitos outros que vão ser atraídos para a bolsa por esta operação."
O economista e investigador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos, António Francisco, também disse à DW que a iniciativa de colocação de ações da barragem ao dispor dos moçambicanos é boa.
"Por aquilo que eu ouvi, a intenção é fazer a coisa com um certo profissionalismo e abertura e não ficar concentrado só nos esquemas dos bancos, que depois fazem aquilo de uma forma discriminatória", afirmou António Francisco.
"Se for um processo transparente e realmente inclusivo e participativo ao nível das diferentes possibilidades dos cidadãos, acho que é uma iniciativa muito interessante que pode trazer uma lufada de ar fresco com este ambiente tão destrutivo que temos vivido", conclui.