UA: Violência no Sudão do Sul é "totalmente inaceitável"
13 de julho de 2016Dois meses depois da formação de um Governo de unidade nacional no Sudão do Sul, forças fiéis ao Presidente Salva Kiir e ex-rebeldes, leais ao vice-Presidente Riek Machar, voltaram a entrar em confronto - uma situação "totalmente inaceitável" para a presidente da Comissão da União Africana.
"Os Governos e as lideranças existem para proteger os vulneráveis, para servir o povo, não para o atacar e ser a causa do seu sofrimento", afirmou Nkosazana Dlamini-Zuma esta quarta-feira (13.07).
"Os beligerantes estão de volta às trincheiras, enquanto as pessoas do Sudão do Sul, em vez de celebrarem os cinco anos de independência [assinalados no sábado], estão uma vez mais barricadas nas suas casas ou têm de fugir como ovelhas diante de lobos".
Segundo as Nações Unidas, os confrontos em Juba, que levaram à morte de pelo menos 300 pessoas, forçaram 36 mil habitantes a abandonar as suas casas. Os deslocados, sobretudo mulheres e crianças, refugiaram-se em locais de acolhimento da missão das Nações Unidas, a MINUSS, e noutros locais da capital.
"Estamos profundamente preocupados com as informações que nos chegaram sobre civis que estão a ser impedidos de procurar refúgio nas instalações da missão da ONU e que, em alguns casos, estão a ser alvo de disparos", afirma Cecile Poully, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. "Alguns locais de acolhimento foram atingidos diretamente nos confrontos. Segundo a missão, oito pessoas morreram e 59 ficaram feridas desde domingo, em locais de proteção de civis."
Cidadãos estrangeiros estão a ser retirados
A violência parece ter acalmado na capital do Sudão do Sul, Juba, depois da entrada em vigor do cessar-fogo, na segunda-feira (11.07), embora o clima permaneça tenso. "O cessar-fogo parece estar a ser respeitado, apesar de disparos esporádicos", avançou na terça-feira Stephane Dujarric, porta-voz das Nações Unidas. "Os capacetes azuis conseguiram realizar algumas patrulhas na cidade."
O Presidente Salva Kiir pediu à população que regresse ao trabalho e à rotina, depois de vários dias de confrontos. E, segundo a ONU, o aeroporto de Juba foi reaberto, embora os voos comerciais continuem suspensos, segundo Dujarric. Mas vários países, incluindo a Alemanha, estão a aconselhar os seus cidadãos a abandonar o Sudão do Sul, enquanto embaixadas e organizações não-governamentais como os Médicos Sem Fronteiras estão a retirar o seu pessoal do país.
A Alemanha e a Itália disponibilizaram meios aéreos para retirarem cidadãos europeus do país. A Força Aérea alemã estava a transportar alemães e cidadãos estrangeiros para fora do Sudão do Sul. Na quarta-feira de manhã, a Força Aérea italiana também transportou 30 passageiros que pediram para sair.
Renegociações?
O Presidente sul-sudanês afirmou na terça-feira que quer negociar com o antigo líder rebelde e atual vice-Presidente Riek Machar com vista a restaurar a paz.
Os dois líderes já pediram às suas tropas que respeitem o cessar-fogo. Tanto Kiir como Machar dizem desconhecer o que levou ao ressurgimento dos combates, mas as duas fações trocam acusações sobre os novos confrontos.
Aumentam assim os receios do regresso da guerra civil que teve início em dezembro de 2013, na sequência de uma luta pelo poder entre os dois líderes. O conflito, marcado por massacres étnicos, violações e homicídios, deveria ter terminado com um acordo assinado em agosto de 2015, mas a paz continua longe de ser uma realidade.
Num dos campos da ONU em Juba, um deslocado interno resumiu o sentimento da população sul-sudanesa: "Ninguém quer guerra no Sudão do Sul. Ninguém quer que ninguém morra, somos todos irmãos. O Governo tem de acabar com esta guerra."
A Agência da ONU para os Refugiados pediu aos países vizinhos que mantenham as fronteiras abertas para receber requerentes de asilo sul-sudaneses.