Três meses depois das eleições na Costa do Marfim
1 de março de 2011Laurent Gbagbo, perdeu as eleições presidenciais de 28 de novembro na Costa do Marfim, mas recusa-se a abandonar o poder e não cede à pressão da comunidade internacional, que reconhece oficialmente Alassane Outtara como vencedor.
Certamente que Ouattara terá imaginado os seus primeiros 100 dias como presidente de uma outra forma: pois, o antigo político da oposição marfinense continua a ter de se barricar num Hotel com receio de ataques. Cerca de mil capacetes azuis das Nações Unidas protegem o ”Golf Hotel” na metrópole económica Abidjan. Os seus acessos estão bloqueados por apoiantes de Gbagbo. Quem quiser falar com o presidente reconhecido internacionalmente tem de usar um helicóptero da ONU. Há até quem apelide ironicamente o “Golf Hotel” de “République du Golf”.
ONU e comunidade internacional: que papel?
Ouattara terá de ter cuidado para ser levado a sério. O encarregado para os assuntos africanos junto do governo alemão, Walter Lindner, esteve na Costa do Marfim e avisa: “Se a situação actual permanecesse assim, teríamos então um presidente que venceu as eleições – com uma vantagem de oito por cento e certificado pela ONU - , e ao mesmo tempo um perdedor que não reconhece a sua derrota." O vencido passaria a vencedor e o vencedor a vencido, considera Lindner que vai mais longe ao colocar em xeque as Nações Unidas e a comunidade internacional, que na sua óptica se tornariam perdedores porque reconheceram Ouattara como presidente.
Numa entrevista à Deutsche Welle em Janeiro, Ouattara estava convencido de que a crise na Costa do Marfim iria terminar até ao final do mês e que se iria sentar em breve (sozinho) na cadeira presidencial. Mas, estamos no final de Fevereiro, e o seu adversário, Laurent Gbagbo, permanece no poder.
O medo tomou conta dos marfinenses
Enquanto isso é sobretudo a população marfinense que sofre com a luta pelo poder. Depois de um período de relativa calma no país, eclodiram novos confrontos entre partidários dos dois campos. Várias pessoas foram mortas em Abidjan. A população está farta da luta pelo poder e, sobretudo, tem medo. Um homem do bairro Abobo, em Abidjan, conta que no seu bairro estão em perigo e acrescenta: "Há quem dispare bem perto de nós. Não sei se para nos dispersar. Mas, sinceramente: não se dispara assim apenas para dispersar as pessoas”.
De acordo com dados das Nações Unidas, já foram mortas mais de 300 pessoas desde o início da crise na Costa do Marfim. Mais de 30 mil pessoas fugiram para os países vizinhos. Além disso, há a questão de alegadas valas comuns no país. A pouco e pouco, fica também limitado aquilo de que os marfinenses precisam para viver: os alimentos tem de ser importados de muito longe. Os bancos já não emprestam mais dinheiro. O sistema quase sucumbiu, diz André Silver Konan, um jornalista económico marfinense e explica que os bancos já não tem mais dinheiro. Isto porque, segundo ele, por um lado, as pessoas já não levam para lá as suas poupanças, e por outro, as empresas gerem elas próprias o seu dinheiro. Os bancos já não trocam cheques entre si e administram apenas o dinheiro que tem em caixa. Konan conclui: "Estamos perto do caos financeiro”. Provavelmente, apenas Laurent Gbagbo terá recheado a tempo os seus cofres, para manter a funcionar o aparelho dos seus apoiantes, diz o encarregado alemão para os assuntos africanos, Walter Lindner. Só assim se poderá manter, apesar das sanções económicas e da proibição de viajar.
Autor: Dirke Köpp / Guilherme Correia da Silva
Revisão: Nádia Issufo/António Rocha