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Costa do Marfim

28 de dezembro de 2010

Líderes da Ecowas, Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental, pedem saída voluntária de Gbagbo, candidato perdedor de eleições presidenciais na Costa do Marfim. Teme-se que crise se espalhe para outros países.

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Laurent Gbagbo, antigo presidente da Costa do MarfimFoto: AP

A crise na Costa do Marfim espalha o temor de uma guerra civil na região. Nesta terça-feira (28/12), os presidentes de Benin, Serra Leoa e Cabo Verde são esperados em Abidjã, antiga capital da Costa do Marfim. Os chefes de Estado se reúnem com Laurent Gbagbo na tentativa de acalmar a situação.

Após as eleições presidenciais de 28 de novembro, a comissão eleitoral declarou o candidato da oposição, Alassane Ouattara, como vencedor. O conselho constitucional do país anulou a decisão da comissão e nomeou Laurent Gbagbo, antigo presidente e candidato da situação, como vitorioso.

A Ecowas, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, recomendou que Gbagbo deixasse o governo voluntariamente para que o vencedor das eleições, Alassane Ouattara, assuma o cargo. James Victor Gbeho, presidente da Ecowas, deixou clara a posição do grupo durante o encerramento da cúpula de crise, na última sexta-feira (24/12).

Ameaças de Gbagdo

"Se o senhor Gbagbo resistir à exigência da Ecowas, a comunidade não tem alternativa a não ser tomar novas medidas. E isso inclui o uso da violência legítima", declarou Gbeho. Ou seja: a ameaça da Ecowas é intervir militarmente na Costa do Marfim para permitir que Ouattara assuma a presidência como legítimo vencedor.

Gbagdo, no entanto, tenta intimidar e ameaça expulsar as Nações Unidas, mergulhando a população da Costa do Marfim numa guerra civil, com "consequências significativas" para os Estados vizinhos.

Paul-Simon Handy, do Instituto para Estudos Estratégicos na África do Sul, chama a atenção para o perigo das ameaças de Gbagdo. "O claro aviso aos líderes de Estados vizinhos é que qualquer intervenção nesta crise terá consequências para o seu próprio país."

Gbagbo também anunciou a expulsão de todos os imigrantes. Cerca de 26% da população da Costa do Marfim vem de países próximos. O poder econômico da Costa do Marfim atraiu, nos últimos anos, trabalhadores de Burkina Faso, Guiné e Mali. Eles trabalham em plantações de cacau, produto cujo maior produtor mundial é a Costa do Marfim, ou no porto de Abidjan, que já foi um dos mais importantes da África Ocidental.

Fuga da Costa do Marfim

Um agravamento da crise e a divisão da Costa do Marfim poderiam ter desdobramentos sérios para os países vizinhos. "Devido ao seu tamanho e à sua grande importância econômica, a Costa do Marfim é um país-chave para toda a África Ocidental. Se o país se tornar instável, isso terá influência direta sobre os demais países", analisa Paul-Simon Handy.

Outro problema que tem atingido os países vizinhos, especialmente a Libéria, é o fluxo de refugiados. Na última quinta-feira, a União Europeia anunciou disponibilizar um fundo de ajuda de 5 milhões de euros para os milhares de refugiados da Costa do Marfim que teriam fugido para países vizinhos como Libéria, Guiné e Gana.

A Acnur, Agência das Nações Unidas para os Refugiados, já registrou o êxodo de 14 mil mulheres, homens e crianças pela fronteira com a Libéria. E esse país, segundo Handy, não está apto a absorver essa corrente de refugiados. E ainda: o país se recupera de uma guerra civil que durou 14 anos.

"A paz na Libéria é muito frágil. Sabemos como foi difícil para a presidente Sirleaf manter a paz. Uma crise na Costa do Marfim poderia trazer risco para a paz conquistada arduamente na Libéria, especialmente se Gbagbo considerar Sirleaf como uma adversária", comenta Paul-Simon Handy.

Os dois países estão ligados não apenas pelo fluxo de refugiados. Mercenários liberianos também estão prestes a lutar na Costa do Marfim. A presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, alertou para que não lutem do lado de Gbabgo, como aconteceu no conflito de 2002.

Nos bastidores

Na opinião de Handy, a Nigéria é a força por trás da decisão da Ecowas, não apenas nessa crise. O país do oeste africano também tomou a frente em relação aos recentes conflitos em Níger ou na Guiné.

"A Nigéria busca a posição de não tolerar uma mudança inconstitucional de governo. A Nigéria quer resolver o problema, se for necessário, também com o uso da violência. Dessa forma, a Nigéria pode ser vista como uma força motriz que quer posicionar a Ecowas como uma instituição normativa no cenário político da África", pontua Handy.

Na última quinta-feira, a União Europeia anunciou disponibilizar um fundo de ajuda de 5 milhões de euros para os milhares refugiados da Costa do Marfim que teriam fugido para países vizinhos como Libéria, Guiné e Gana.

Autora: Stefanie Duckstein (np)
Revisão: Carlos Albuquerque