Sissoco está em Maputo e não se espera "grande impacto"
19 de junho de 2024Umaro Sissoco Embaló diz que a Guiné-Bissau e Moçambique querem dar um novo impulso a um legado histórico de amizade.
Os chefes de Estado dos dois países assinaram hoje instrumentos de cooperação e falaram sobre vários temas, desde o combate à Covid-19 ao funcionamento dos "órgãos Executivo, Legislativo e Judicial", adiantou o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.
Sissoco Embaló expressou, por sua vez, "ao senhor Presidente Nyusi, em novo do povo da Guiné-Bissau, toda a solidariedade com o povo irmão de Moçambique na sua luta contra o terrorismo".
Esta quinta-feira (20.06), Sissoco Embaló deverá receber a chave da cidade de Maputo. A oposição disse que vai boicotar a cerimónia, em protesto. Em entrevista à DW, Wilker Dias, analista político moçambicano, concorda que Sissoco não merece esta distinção.
DW África: O que se espera desta visita de Sissoco Embaló a Moçambique?
Wilker Dias (WD): Não há grande perspetiva de avanços no que diz respeito a interesses [como acontece em visitas] de dirigentes de outros países.
DW África: Acha que a oposição moçambicana tem razão quando diz que Sissoco Embaló não merece receber a chave da cidade de Maputo por ser muito contestado pelos partidos da oposição da Guiné-Bissau?
WD: Sim, eu acredito que, para a atribuição de chaves de cidades, principalmente no caso concreto da capital do país, são necessários alguns critérios e pressupostos. Na minha óptica, não será de bom tom atribuir a chave a Sissoco, não só por razões democráticas e pelas perseguições que tem perpetrado contra a sociedade civil e os partidos políticos, mas também por conta do impacto que vem causando não só no seu país, mas também nas relações com Moçambique.
Se olharmos por outro ângulo, a cidade de Maputo peca ainda mais porque não tem atribuído esse título a artistas, ativistas ou outros membros da sociedade de destaque, na própria cidade. Isso é algo extremamente preocupante.
DW África: Mas o Conselho Municipal justifica-se dizendo que esta chave é atribuída a Sissoco Embaló em nome do povo da Guiné-Bissau, pois o Presidente da República representa a Nação.
WD: Aqui estamos a falar diretamente da figura de Sissoco Embaló. Quando se olha para a figura, tem de se verificar as benfeitorias ao povo, e isso não está a acontecer. Seria justificável a atribuição para alguém que pauta pela preservação dos Direitos Humanos e por uma democracia transparente e exemplar. Não é justificável a atribuição da chave a [quem não o faz]. Tudo isto justifica a posição da oposição. Sissoco Embaló não reflete os anseios do povo da Guiné-Bissau.
DW África: Uma demonstração de apoio de Maputo a Sissoco Embaló poderia penalizar a FRELIMO e o seu Governo?
WD: Acho que não vai ter um grande impacto a nível local. Só penalizaria se fosse uma figura mais sonante a nível popular, aí sim poderia ter um impacto significativo.