Senegaleses devem eleger parlamento mais colorido, no domingo
29 de junho de 2012As eleições legislativas do Senegal do próximo domingo (01.07) ocorrem três meses depois da vitória do atual Presidente, Macky Sall, que obteve 65% dos votos na segunda volta das presidenciais (25.04), e teve como adversário o antigo governante Abdoulaye Wade. Este esteve durante 12 anos no poder.
Para Ute Bocandé, pesquisadora da Fundação Konrad Adanauer em Dacar, desde então, o humor da população mudou radicalmente. Se os últimos anos sob o comando de Abdoulaye Wade foram dominados por um estilo autoritário de governo gerando medo na população, “este medo acabou e há uma nova confiança, apesar de os grandes problemas ainda estarem lá”.
Apesar de ser uma nação essencialmente agrícola, continua a pesquisadora, “situação económica é difícil e em algumas partes do país há a fome, porque as últimas safras foram muito pobres”.
As legislativas vão renovar 150 assentos da Assembleia Nacional, 90 por maioria dos votos e 60 por representação proporcional, para um mandato de cinco anos. A campanha eleitoral terminou nesta sexta-feira e decorreu sem incidentes graves.
Parlamento mais colorido e feminino
A pesquisadora da Fundação Konrad Adanauer acredita que a eleição irá fortalecer Macky Sall. Ela explica que quase todos os membros do parlamento pertenciam ao partido do ex-presidente Abdoulaye Wade, “o que era quase insuportável para uma democracia”.
Sendo assim, há grandes chances de se eleger um Parlamento mais democrático. “Minha estimativa é que a coalizão do presidente deve receber entre 60 e70 por cento dos votos, prevê.
A participação das mulheres também deverá aumentar. Atualmente, apenas um quinto do parlamento senegalês é composto por mulheres. Isso deve mudar depois dessas eleições, por causa da nova lei que exige a paridade de sexo entre os candidatos de cada partido.
Ute Bocandé afirma que, na prática, 50% dos candidatos têm que ser homens e 50% mulheres. “Isso levará automaticamente a que, no futuro, as mulheres sejam muito mais representadas no Parlamento”, avalia.
Rumo à estabilidade
A violência marcou a campanha para as presidenciais, resultando em mortes e muitos feridos. Mas será que o mesmo irá ocorrer nessas parlamentares? Para a pesquisadora, as parlamentares serão tratadas com menos paixão.
Ela diz temer que o comparecimento às urnas seja fraco e revela: “a importância do papel do Parlamento ainda não é muito clara na consciência da população”.
O Senegal é um dos poucos países africanos que não sofreu um golpe de Estado após a sua independência, em 1960.Nos vizinhos Mali e Guiné-Bissau, a situação após os golpes militares de março e abril ainda é tensa.
Segundo a pesquisadora da Fundação Konrad Adanauer, Ute Bocandé, se continuar a seguir o caminho da democracia e da estabilidade, o Senegal pode recuperar o papel de mediador que teve no passado, como nos conflitos no Congo, Chade ou na Costa do Marfim.
“Isso, infelizmente, mudou uma vez que o governo Wade perdeu a credibilidade”, lembra, considerando se tratar de uma nação “calma e pacífica”. Para Ute Bocandé com o novo governo, “o Senegal irá recuperar a liderança diplomática na região Oeste de África”, conclui.
Autores: Peter Hille/Cristiane Vieira Teixeira/Lusa
Edição: António Rocha