1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Seca no sul de Angola coloca em risco 120 mil crianças

Vanessa Raminhos1 de junho de 2016

O fenómeno climatérico El Niño afeta cada vez mais a África Austral. Secas severas prejudicam a produção de alimentos e a desnutrição atinge níveis preocupantes em países como a África do Sul, Moçambique e Angola.

https://p.dw.com/p/1IxuZ
O El Niño tem afetado severamente várias zonas do continente africano. Na foto uma região da Etiópia.Foto: Imago/imagebroker

A falta de chuva, agravada pelo fenómeno El Niño, destruiu totalmente as colheitas em muitas regiões. Mais de 36 milhões de pessoas estão em risco de fome no sul e leste de África, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU) .

Em Angola, especialmente nas províncias do sul, a situação agrava-se a cada dia. "As colheitas só chegarão para alimentar a população do sul durante três meses", diz Pier Paolo Balladelli, coordenador residente da ONU no país.

A organização registou cerca de 580 mil pessoas em situação de insegurança alimentar, sobretudo nas províncias do Namibe, Huíla, Cunene e Cuando Cubango - 120 mil são crianças.

[No title]

Face a esta situação, a ONU e o Governo angolano acionaram um plano "para dar alimentos à população e criar, também, uma produção rápida de produtos agrícolas, através da utilização de sementes de curta duração", segundo Balladelli.

Para além da escassez de alimentos, causada pelas fracas colheitas deste ano, "30% dos furos que a população usa para ter acesso a água potável não estão, neste momento, funcionais". Por isso, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) prevê reabilitar ao longo dos próximos meses 300 furos de água para permitir o abastecimento da população.

A UNICEF e a Organização Mundial de Saúde (OMS) também colaboram com o Governo de Angola em programas para combater a desnutrição, particularmente das crianças - cerca de 40 mil sofrem de desnutrição aguda severa.

"[Estas crianças] requerem uma atenção mais urgente: diretamente na comunidade, através de um complemento nutricional, ou, quando são casos mais severos, nos hospitais, através de alimentos terapêuticos", afirma Balladelli.

Karte Angola mit den 18 Provinzen Portugiesisch
Namibe, Huíla, Cunene e Cuando Cubango são as províncias mais afetadas pela seca

Malária e febre-amarela agravam situação

"Infelizmente, há uma epidemia de malária. Este ano, houve um aumento da população de mosquitos, que criou condições para a triplicação dos casos de malária", diz o responsável das Nações Unidas.

"A malária é uma doença que faz uma sinergia negativa com a desnutrição. Quando temos um doente, especialmente uma criança que já sofre de desnutrição e é atingida pelo paludismo, essas duas condições fazem aumentar perigosamente a possibilidade de morte".

No programa que a ONU e o Governo angolano estão a desenvolver no sul do país de combate à desnutrição também se abarca o combate à malária - "com mosquiteiros, um diagnóstico rápido e fármacos antipalúdicos para tratar de forma imediata as crianças e evitar que a malária possa aumentar a probabilidade de morte", explica Balladelli.

A malária e a febre-amarela já provocaram centenas de mortes no país, e os hospitais e as morgues não conseguem dar resposta a todos os casos que têm surgido. Luanda é uma das cidades mais afetadas, onde a acumulação de lixo nas ruas e as chuvas têm aumentado a propagação das doenças. Apesar de a OMS ter avançado com um programa de vacinação contra a febre-amarela nas províncias angolanas, a organização descarta a possibilidade de declarar o surto como uma emergência de alcance internacional.

Gelbfiebermücken
O aumento da população de mosquitos elevou o número de casos de malária e febre-amarelaFoto: picture-alliance/dpa/A. Weigel

Crise em Angola pode dificultar combate à desnutrição

Desde o início de 2015 que Angola atravessa uma grave crise económica e financeira devido à descida do preço do petróleo no mercado internacional. O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, teve de pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional.

Para Pier Paolo Balladelli, a situação deixa "o país com menos capacidade para responder aos grandes desafios". Apesar dos esforços e das campanhas que o Governo angolano tem vindo a desenvolver no combate às epidemias e aos efeitos da seca, Balladelli afirma que há "lacunas, de um ponto de vista financeiro. Por isso, a comunidade internacional tem que fazer todo o esforço possível para poder defender a população neste momento particularmente grave."

O representante da ONU em Angola teme que depois da seca venham as cheias e a situação piore.

"Há 80% de probabilidade de chegarem as cheias com o fenómeno de La Niña", o oposto do El Niño, refere Balladelli, explicando que "quando há cheias estamos numa situação de gravidade, pois há um isolamento das comunidades e a destruição de alimentos que deveriam estar em maturação. Estes são os números que temos, mas, a partir de setembro, podem aumentar".