Os efeitos devastadores do El Niño no sul de África
20 de janeiro de 2016Com as alterações climáticas, as secas estão a tornar-se cada vez mais frequentes e graves no sul de África. O que, em combinação com o fenómeno El Niño, causado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, traz cada vez mais problemas às populações.
"O número de pessoas sem alimentos suficientes pode aumentar significativamente nos próximos meses à medida que a região entra na chamada estação de escassez, em que o armazenamento de alimentos é extremamente baixo", alertou esta semana o Programa Alimentar Mundial (PAM) num comunicado.
Um dos países mais afetados pelas secas que se registaram em 2015 foi o Malawi, onde há 2,8 milhões de pessoas ameaçadas de fome, segundo o PAM. Seguem-se o Madagáscar e o Zimbabué - países onde as colheitas do ano passado foram metade das de 2014. O Programa Alimentar Mundial também está preocupado com as situações em Angola e Moçambique. Estima-se que na província do Cunene, no sul de Angola, quase 800 mil pessoas tenham sido afetadas pela falta de água. O sul de Moçambique também está a ser afetado por uma seca severa, enquanto o norte tem sido fustigado por chuvas intensas.
Situação "vai piorar"
Na África do Sul, mais de metade dos 50 milhões de habitantes estão ameaçados pela fome, segundo as autoridades. Pelo menos 11 pessoas morreram de insolação este mês.
"A situação continua dramática; ainda estamos a enfrentar as mesmas condições de seca", diz Joel Ondego Botai, cientista-chefe do Serviço Meteorológico da África do Sul. "Pelo que sabemos neste momento, daqui a um ou dois meses, o El Niño vai atingir o seu pico e isso terá os seus efeitos. Só depois poderemos começar a sentir uma espécie de alívio. A situação pode até arrastar-se durante quatro meses."
O Zimbabué, país vizinho da África do Sul, está igualmente a sentir a pressão do El Niño. A seca ameaça culturas e animais em grande parte do país. Um milhão e meio de zimbabueanos, especialmente do sul, precisam de ajuda alimentar, de acordo com agências de ajuda humanitária.
Chimimba David Phiri, coordenador para a África Austral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), diz à DW África que se esperam consequências mais graves este ano do que as registadas durante o El Niño de 1997 a 1998, considerado um dos mais intensos até agora.
"Se o El Niño for tão mau como prevemos que seja, podemos esperar consequências mais sérias", afirma. "Também estamos a ter em conta o que acontecerá na próxima estação, quando as comunidades poderão estar numa situação mais desfavorecida por causa da seca do ano passado."
Ajuda divina
O Malawi, tal como os seus vizinhos na África Austral, sente-se impotente face aos fenómenos climáticos. Por isso, apelou à intervenção divina. No início deste mês, o Presidente Peter Mutharika realizou orações para que as chuvas aumentem, numa cerimónia realizada na capital, Lilongwe.
A população está desesperada e tem medo de voltar a passar fome este ano.
Estima-se que cerca de 2,8 milhões de pessoas no país precisem de ajuda alimentar por causa das inundações e da seca da última temporada.