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Restrições dificultam luta contra o ébola em África

Hilke Fischer / Lusa10 de setembro de 2014

Políticos, empresários e organizações apelam ao levantamento das proibições de viajar para os países afetados pelo ébola. As consequências das restrições para o continente podem ser mais graves do que o próprio vírus.

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Foto: DW/A. Kriesch

Na segunda-feira (08.09), no final de uma reunião de emergência da União Africana (UA) sobre o ébola, na capital da Etiópia, Addis Abeba, a chefe da comissão da organização, Nkosazana Dlamini-Zuma, apelou para que os Estados membros levantem as proibições de viajar para que as pessoas possam circular entre os países e realizar atividades económicas.

Nas últimas semanas, como medida de precaução, muitos países fecharam as suas fronteiras e companhias aéreas internacionais deixaram de voar para a Libéria, a Guiné-Conacri e a Serra Leoa. Para os países afetados pelo ébola, o isolamento significa enormes perdas económicas.

As terras agrícolas não estar a ser cultivadas e não há colheitas. “Muitas empresas simplesmente fecharam. As relações económicas foram interrompidas. E isso afecta todos, incluindo os pequenos agricultores”, explica Jochen Moninger, que trabalha para a organização não-governamental Acção Agrária Alemã na Serra Leoa.

Além disso, a fome ameaça até cerca de 400 mil pessoas nas áreas afetadas pelo ébola, calcula Jochen Moninger.

Restrições pioram situação

Na batalha para travar o alastramento do ébola, é preciso “ter cuidado para não introduzir medidas que tenham mais impacto social e económico do que a própria doença", pediu a presidente da comissão da UA, Nkosazana Dlamini-Zuma.

Os diretores de onze grandes empresas que operam na África Ocidental também apelaram ao levantamento das restrições de viagem, uma vez que podem piorar a situação humanitária.

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“O impacto geral do encerramento de fronteiras e as restrições ao tráfego aéreo é negativo”, concorda Nyka Alexander, que trabalha para a Organização Mundial da Saúde (OMS) na Serra Leoa.

Para o pessoal que trabalha nas organizações humanitárias tornou-se mais difícil entrar nestes países. “E se os médicos não podem viajar para os países afetados porque já não há voos, então a situação piora”, acrescenta.

Segundo Nyka Alexander, o risco de o vírus se espalhar através de viagens de avião é muito baixo. Até porque muitos países fazem verificações de temperatura nos aeroportos e quem tem febre não pode viajar. Aliás, as restrições ao tráfego aéreo nunca foram recomendadas pela OMS, lembra.

O que é importante, defende ainda a responsável, é concentrar-se em regiões onde o vírus se está a espalhar de forma particularmente rápida. Em vez do encerramento de fronteiras, devem ser asseguradas melhores opções de tratamento e acesso a alimentos e a água.

Existência da Libéria ameaçada

O ébola “propaga-se como um fogo florestal”, que devora tudo por onde passa. A definição é do ministro da Defesa da Libéria, Brownie Samukai. Na terça-feira (09.09), num discurso perante o conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), o governante afirmou que o vírus ameaça a existência da Libéria.

O país, o mais atingido pela doença, “não tem suficientes infraestruturas, capacidades logísticas, experiência profissional e recursos financeiros para enfrentar a epidemia de maneira eficaz”, sublinhou o governante.

Só na província de Montserado, que inclui a capital da Libéria, Monróvia, faltam mil camas para pacientes com ébola. E o número de casos continua a aumentar. Ironicamente, o Governo liberiano teve que fechar vários hospitais.

“Em vez de serem lugares de ajuda, hospitais e clínicas transformaram-se em locais onde o vírus se estava a espalhar”, revelou em entrevista à DW África o ministro da Informação, Lewis Brown.

Nigeria Flughafen in Abuja Ebola Kontrolle
Verificar a temperatura, como no Aeroporto Internacional de Abuja, a capital nigeriana, é agora comum em muitos paísesFoto: picture-alliance/dpa

Quarentena na Guiné-Bissau

Na Guiné-Bissau não foi ainda registado qualquer caso. Três pessoas estão de quarentena no Hospital Regional de Bafatá, no leste do país, como medida de prevenção do vírus.

As três pessoas "estão bem” e “não têm sintomas" de infeção, mas entraram no país a partir da Guiné-Conacri, país vizinho afetado pelo surto que assola várias zonas da África Ocidental, anunciou Mamadu Sambú, diretor do hospital, citado pela agência de notícias Lusa.

Apesar de ter fechado as fronteiras com a Guiné-Conacri em agosto, há notícia de casos de pessoas que entram a Guiné-Bissau e denúncias de alegados subornos a agentes de segurança.

Até agora, a epidemia já matou quase 2.300 pessoas na África Ocidental, de acordo com o mais recente balanço da OMS.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, anunciou que pretende convocar uma reunião internacional sobre o ébola no final de setembro, em Nova Iorque, por ocasião da Assembleia-Geral das Nações Unidas.

O objetivo é obter contribuições para lutar contra a epidemia por parte de governos, de organização não-governamentais e do setor privado.


Kenya Airways Flughafen Nairobi ARCHIV
A Kenya Airways é uma das companhias aéreas que deixaram de voar para países afetados pelo ébolaFoto: picture-alliance/dpa
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