Guiné-Bissau defende-se do ébola "com unhas e dentes"
8 de setembro de 2014Chegaram mais reforços para ajudar a Guiné-Bissau a combater o surto de ébola. A Organização Mundial de Saúde (OMS) forneceu ao país 40 termómetros para despistar à distância pessoas com febre, um dos sintomas de quem está infetado com o vírus.
Os termómetros serão colocados no aeroporto internacional de Bissau e em todos os postos fronteiriços com a vizinha Guiné-Conacri, um dos países mais afetados pelo surto. As autoridades guineenses encerraram os postos por precaução, mas, segundo a agência de notícias Lusa, há relatos de entrada ilegal de pessoas através do suborno de guardas.
A Guiné-Bissau tenta ao máximo travar a entrada do vírus. Seria "catastrófico se a doença chegasse agora", diz o representante das Nações Unidas, Miguel Trovoada. O país enfrenta neste momento "grandes desafios" com a retoma à normalidade constitucional depois do período de transição que se seguiu ao golpe de Estado de 2012.
São várias as medidas tomadas pelas autoridades. O Governo guineense tem sensibilizado a população para os riscos do ébola, lançou uma campanha nacional de limpeza e desinfeção e disponibilizou, por exemplo, dois números de telefone gratuitos para a população denunciar casos suspeitos. O primeiro-ministro guineense, Domingos Simões Pereira, chegou mesmo a doar sangue no âmbito da campanha de prevenção do ébola.
Formação sobre ébola
Este fim-de-semana, as Nações Unidas promoveram em Bissau uma formação para formadores sobre a doença, ministrada por peritos da universidade norte-americana John Hopkins. Participaram 35 médicos guineenses e de outros cinco países da África Ocidental: Senegal, Guiné-Conacri, Nigéria, Gâmbia e Costa do Marfim.
Como cuidar de um paciente infetado com ébola, como prevenir a doença ou como interromper a cadeia de infeção foram alguns dos temas abordados na formação, conta a especialista Polly Trexler.
"Falámos sobre como tratar os doentes e como saber se eles estão realmente infetados com o vírus do ébola", diz a formadora. "Abordámos também os procedimentos que devem ser seguidos para os médicos se protegerem a si próprios e aos doentes. Fizemos ainda exercícios sobre cuidados básicos que um médico deve ter."
Casos suspeitos na Guiné-Bissau
O surto de ébola já se espalhou da Guiné-Conacri para a Serra Leoa, Libéria, Nigéria e Senegal. Ao todo, o vírus já provocou mais de duas mil mortes. Só na Guiné-Conacri, país que faz fronteira com a Guiné-Bissau, já morreram mais de 500 pessoas.
Por isso, é fundamental capacitar as pessoas para prevenir e gerir eventuais casos desta doença, afirma o representante das Nações Unidas em Bissau.
"Há um certo número de medidas que foram e estão a ser tomadas e, se porventura se registar algum caso, é preciso estar preparado para atender a situação e saber como reagir", diz Miguel Trovoada.
O diretor-geral da promoção da Saúde Pública, Nicolau Almeida, avança que, na Guiné-Bissau, já há vários casos suspeitos que estão sob quarentena.
"Há três pessoas em Bafatá que estão a ser seguidas. São pessoas que vieram da Guiné-Conacri mas que não têm nenhum sintoma do vírus", diz o responsável. "Em Gabú, logo quando se fecharam as fronteiras, também apareceram alguns indivíduos, da Guiné-Bissau e provavelmente também da Guiné-Conacri, que estão de quarentena."
UA pede fim da proibição de viajar
A Guiné-Bissau não foi o único país a fechar as fronteiras e a pôr em marcha planos de prevenção. Enquanto alguns países afetados impuseram quarentenas em regiões inteiras, outros cancelaram os voos para os países afetados para travar o surto. Mas a União Africana (UA) teme o impacto económico destas medidas.
"Foi acordado que deveríamos pedir a todos os Estados-membros que levantem todas as proibições de viajar para que as pessoas possam circular entre os países, para que haja trocas comerciais e para que estejam abertos a atividades económicas", diz a chefe da comissão da UA, Nkosazana Dlamini-Zuma. É preciso "ter cuidado para não introduzir medidas que tenham mais impacto social e económico do que a própria doença."
Porém, é preciso assegurar que há mecanismos de supervisão montados no terreno, sublinhou a responsável.
A OMS teme que o vírus se continue a alastrar a um ritmo galopante, sobretudo na Libéria, onde se receia "milhares" de novos casos nas próximas semanas.