Guiné-Bissau limpa lixo das ruas para prevenir surto de ébola
2 de setembro de 2014Os guineenses continuam a limpar e a desinfetar as ruas da Guiné-Bissau, ao mesmo tempo que o país enfrenta dificuldades em controlar a entrada e saída de pessoas na fronteira com a Guiné-Conacri.
Depois de as autoridades guineenses terem tomado conhecimento da chegada do vírus ébola ao Senegal, outro país que faz fronteira com a Guiné-Bissau, foram redobrados os esforços para prevenir o alastramento da epidemia que já matou mais de 1 500 pessoas na África Ocidental, sendo que cerca de 120 eram trabalhadores sanitários.
A campanha de limpeza e desinfeção decorre em ruas, hospitais, mercados e canais de drenagem de água de todo o território guineense. Em vários lugares públicos, foram colocados baldes com água e lixívia para lavar as mãos. No entanto, a Câmara Municipal de Bissau ainda não conseguiu recolher os amontoados de lixo retirados dos bairros que foram, entretanto, depositados nas estradas.
José Mário Vaz, Presidente da República, participou na limpeza do maior mercado a céu aberto de Bissau e instou os guineenses a redobrarem a vigilância, especialmente agora que o surto atingiu dois países vizinhos.
“Estamos precisamente na hora de meter a mão na lama. Isto é que é meter a mão na lama. [Devemos] tomar conta das nossas casas, assumirmos a limpeza da Guiné-Bissau para corrermos com a doença do ébola”, disse José Mário Vaz.
Caso no Senegal é “muito má notícia”
Além da Guiné-Conacri, Libéria, Serra Leoa, República Democrática do Congo e Nigéria, foi agora também confirmado o primeiro caso no Senegal, o que deixa o primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira, preocupado com o controlo das fronteiras.
“Este caso no Senegal é uma muito má notícia para nós todos. Muito má notícia. É algo que tem que nos alertar para a necessidade de reforçar ainda mais a vigilância”, sublinhou.
Segundo os comerciantes, cerca de 90 por cento dos produtos alimentares e higiénicos de primeira necessidade são comprados no Senegal e na Guiné-Conacri. Fechar a fronteira com estes países pode gerar a rotura de stock destes produtos nos mercados do país.
Nos últimos dias, aumentaram os relatos de pessoas que continuam a entrar e a sair da Guiné-Conacri, recorrendo às vias clandestinas para fazer compras.
“Consta até que as pessoas estavam a entrar e sair sem controlo. E mais, não havia sequer um balde de água no qual as pessoas pudessem desinfetar as mãos antes de entrar ou sair da fronteira”, lamenta o médico Mboma Sanca, que esteve no posto da fronteira com a Guiné-Conacri.
“Havia algumas tropas da Guiné-Conacri que vinham à nossa parte para comprar vinho ou outras coisas. Isso não pode acontecer, porque podem ser catalisadores do vírus”, avisa o médico.
População como vigilante
Para combater este tipo de situações que põe em risco a população da Guiné-Bissau, o primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira, pediu a total colaboração da população na vigilância mútua.
“É importante que as estruturas vivas da população possam participar neste esforço. Não há um confronto entre o Governo, que quer demonstrar a sua capacidade, e os cidadãos, que querem provar que o Governo não tem essa capacidade. Não, isto trata-se de uma ameaça. É uma ameaça que paira sobre nós. E é para precaver essa ameaça que todos os cidadãos nacionais devem sentir-se parte desse esforço”, pediu Domingos Simões Pereira.
Perante a progressão do vírus ébola na região da África Ocidental, as autoridades guineenses encetaram uma campanha nacional de limpeza e desinfeção, na qual ministros e secretários de Estado participaram, rumando a várias zonas do país para incentivar a população a unir esforços na prevenção do flagelo que tem assolado a África Ocidental.
Cabo Verde com restrições
Tanto Dacar como Bissau anunciaram na semana passada o encerramento das respetivas fronteiras terrestres com a Guiné-Conacri.
Também Cabo Verde decidiu reforçar as medidas de prevenção. Assim, o Governo do arquipélago proibiu a entrada de cidadãos estrangeiros não residentes que nos últimos 30 dias tenham estado nos países afetados pela epidemia.
Já o Governo de São Tomé e Príncipe proibiu na sexta-feira (29.08), em conselho de ministros, a entrada e saída de pessoas e bens, incluindo cidadãos estrangeiros, de países como a Nigéria, Guiné-Conacri, Libéria, Senegal e Serra Leoa.
Segundo o último balanço da Organização Mundial de Saúde (OMS), contabilizaram-se até agora 3 069 casos da doença, incluindo 1 552 mortes, em quatro países da África Ocidental.