Quénia: Odinga convoca greve e promete nova estratégia
13 de agosto de 2017O líder da oposição queniana, Raila Odinga, convocou este domingo (13.08) uma greve para apoiar sua reivindicação à Presidência e acusou o partido no poder de "derramar o sangue de cidadãos inocentes". Nos últimos dois dias, dezenas de pessoas morreram em violentos confrontos entre a polícia e apoiantes da oposição, que não aceitam a vitória do atual Chefe de Estado nas eleições.
A Comissão Eleitoral anunciou oficialmente na sexta-feira (11.08) a reeleição do Presidente Uhuru Kenyatta, vencedor com 1,4 milhão de votos. Observadores internacionais disseram que a votação de terça-feira foi bastante justa, mas Odinga rejeita os resultados, dizendo que o processo eleitoral foi manipulado.
"Derramaram o sangue de pessoas inocentes. Amanhã (segunda-feira, 14.08) não há trabalho", disse Odinga a uma multidão de pelo menos quatro mil apoiantes em Kibera, periferia de Nairobi, referindo-se ao partido no poder.
Ele prometeu anunciar uma estratégia na próxima terça-feira, com objetivo de desqualificar as eleições. "Esperem até que eu anuncie o caminho a seguir depois de amanhã (terça-feira, 15.08)".
Pressão internacional
No seu primeiro discurso público desde quinta-feira, Odinga deixou claro que não pretende desistir de reivindicar a sua vitória nas eleições, apesar dos pedidos da comunidade internacional para que ele aceite o resultado da votação de terça-feira.
A representante da União Europeia (UE) para Política Externa, Federica Mogherini, parabenizou neste domingo Uhuru Kenyatta pela sua reeleição como presidente, nas eleições de 8 de agosto.
A chefe da diplomacia europeia pediu à oposição para cessar todo ato violento e aceitar pacificamente o resultado, que foi monitorado por várias missões eleitorais internacionais, incluindo uma comandada pela UE.
Protestos e confrontos violentos pós-eleitorais
Uma série de protestos e violentos enfrentamentos com a polícia se sucederam nas principais cidades do Quénia desde o anúncio oficial da reeleição do Presidente Uhuru Kenyatta, na sexta-feira à noite. A violência agravou-se no sábado e se concentrou nos locais onde a oposição regista um maior número de apoiantes. A Cruz Vermelha do Quénia disse no sábado que tratou 93 pessoas feridas.
A oposição alegou que a polícia matou mais de 100 cidadãos e que os corpos das vítimas estavam a ser retirados das ruas para que a opinião pública não tomasse conhecimento do "massacre".
Já a Comissão Nacional para os Direitos Humanos do Quénia (KNCHR) afirma que a polícia matou pelo menos 24 pessoas durante as manifestações.
Polícia nega mortes
A polícia nega as informações divulgadas pelo grupo de direitos humanos e diz que são alegações que pretendem aumentar as tensões no país. No Facebook da corporação um comunicado este domingo informava que os agentes de segurança mataram seis "criminosos", suspeitos de praticar saques e atacar a polícia.
Sem avançar números oficiais de vítimas, o porta-voz presidencial Manoah Esipisu culpou os manifestantes pelo derramamento de sangue.
"Os protestos violentos são ilegais", disse ele num comunicado. "A Polícia não tolerará violações da paz, mas sim protegerão a vida e os bens dos quenianos, e eles restaurarão a lei e a ordem".
Os repórteres da agência de notícias Reuters viram a polícia repetidamente disparar gás lacrimogéneo e balas para dispersar multidões de pessoas em favelas. A polícia também deteve e atacou fisicamente jornalistas.
Apesar de o sábado ter sido violento, este domingo os bairros da periferia de Nairobi e as localidades na região de Kisumu amanheceram tranquilos, mas com agentes de segurança a patrulhar as ruas.
Na violência pós-eleitoral de 2007 no Quénia morreram pelo menos 1.100 pessoas e mais de 600 mil foram obrigadas a abandonar as suas casas.