Método inovador ajuda a identificar violadores sexuais
10 de setembro de 2019No Quénia, uma ativista e uma criminologista desenvolveram testes de ADN que permitem que uma vítima de violação identifique facilmente o agressor. Em vez dos médicos, as amostras de ADN podem ser recolhidas pelas próprias vítimas. Nos últimos anos, a violação tornou-se uma arma de guerra em muitos conflitos. A violência sexual cotidiana é alarmante em muitos países africanos - e não apenas em regiões em crise.
Eram 10 da noite quando Wangu Kanja foi violada. Estava dentro do carro, em Nairobi, a capital do Quénia, com amigos, quando de repente quatro homens armados abriram a porta do carro, ameaçaram-na e entraram. Foram até um multibanco e dois dos homens levantaram dinheiro com os cartões de crédito roubados. Os criminosos deixaram os amigos de Wangu irem embora. E ela ficou sozinha.
Tinha 27 anos. Depois dessa noite negra começou a beber e ficou deprimida. Não sabia como lidar com o trauma, até que três anos depois fundou uma organização não-governamental para ajudar vítimas de violência sexual no Quénia.
"Foi a partir da minha própria experiência pessoal, quando fui violada em 2002 e os desafios que enfrentei depois. Chega uma altura em que é preciso fazer alguma coisa, temos de descobrir o quê e concretizá-lo. Então, depois de três anos, tomei a decisão de fundar uma organização para abordar o tema da violência sexual", contou Wangu Kanja.
Métodos inovadores
Mas a ativista não está sozinha. Trabalha com a criminologista Lisa Smith, da Universidade inglesa de Leicester. Juntas, desenvolveram um método que permite às vítimas de violação identificar facilmente o agressor, através de testes de ADN, mais baratos do que os que existem atualmente.
Em vez dos médicos, as amostras de ADN podem ser recolhidas pelas próprias vítimas - com um cotonete ou um pequeno tubo de plástico. No final do ano, os testes deverão ser distribuídos em várias regiões do Quénia, sobretudo em áreas rurais onde faltam hospitais.
Mas muitos casos não são denunciados por mulheres que têm medo. E muitas vezes os violadores não são condenados por falta de provas. É isso que Wangu Kanja quer mudar. Se possível, também com a ajuda de instituições religiosas. Até porque muitas vezes a igreja é o lugar onde as vítimas procuram ajuda após a violação.
"Se houver instituições religiosas envolvidas, quando vão pregar a palavra, indepentemente daquilo em que acreditam, vão falar da ajuda aos sobreviventes de violência sexual. Por isso, as igrejas são um parceiro fundamental na abordagem da violência sexual", explicou Kanja.
Crença no conceito
Uma ideia que a queniana apresentou no encontro mundial "Religiões pela Paz", que decorreu em finais de agosto em Lindau, na Alemanha. Wolfgang Schürer, um dos organizadores do evento, acredita no conceito e tem esperança.
"Se já existe tal procedimento no país, a sua existência, só por si, poderá já ter um efeito preventivo. Isso poderia reduzir muito o número de agressões sexuais. Se pudermos contribuir para isso, esta conferência mundial, só por causa deste projeto, já terá valido a pena", afirmou Wolfgang Schürer.
A agência norte-americana para o desenvolvimento (USAID) estima que 14% das mulheres no Quénia são vítimas de violência sexual pelo menos uma vez na vida. Na vizinha Tanzânia, de acordo com o Banco Mundial, quase uma em cada três mulheres entre os 15 e 49 anos foi vítima de violência sexual ou física nos últimos 12 meses.
Nos últimos anos, a violação tornou-se uma arma de guerra em muitos conflitos. No leste do Congo, nos Balcãs e também na Síria, por exemplo. Em muitos países africanos, a violência sexual cotidiana é alarmante - e não apenas em regiões em crise.