Protestos anti-governamentais voltam às ruas no Quénia
16 de julho de 2024"Ruto tem de sair", voltaram a gritar hoje nas ruas da capital queniana os manifestantes, que acusam o Presidente de corrupção e má governação, num contexto de aumento do custo de vida no país.
A polícia lançou gás lacrimogéneo para dispersar os protestos, liderados principalmente por jovens, em Nairobi e em várias cidades, incluindo Mombaça, Kisumu e Eldoret.
Um repórter da agência Reuters diz ter visto em Nairobi o corpo de um manifestante deitado no chão, com sangue a escorrer da cabeça. O porta-voz da Polícia Nacional não quis fazer comentários sobre o caso.
Os ativistas apelaram a um "encerramento total" do Quénia, numa tentativa de pressionar William Ruto a sair do cargo, apesar de o chefe de Estado ter demitido quase todo o Executivo na semana passada, à exceção de um ministro, e de ter prometido formar um novo Governo, ágil e eficiente, em resposta às exigências dos manifestantes, que querem mudanças sistémicas para acabar com a corrupção e combater a má governação.
Ruto desistiu recentemente do plano para aumentar substancialmente os impostos por causa dos protestos em massa em várias cidades, iniciados a 18 de junho. Inicialmente, os manifestantes posicionavam-se apenas contra o controverso projeto de lei para aumentar os impostos, mas gradulamente os protestos transformaram-se em mobilizações anti-governamentais.
"Um fantoche do FMI"
"Ruto é muito incompetente. Não tem capacidade de liderança. Ele só queria o título de Presidente deste país. É um fantoche do FMI", disse um manifestante à Reuters.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) tem sido um dos principais alvos da ira dos jovens manifestantes quenianos, que acusam a instituição de ser a força motriz por detrás das propostas de aumento de impostos.
O FMI disse que o seu principal objetivo, através dos programas de empréstimo ao Quénia, tem sido ajudar o país a ultrapassar os desafios económicos e a melhorar o bem-estar da população.
Winnie Ouma, outra manifestante, disse à AP que gostava que o Presidente ouvisse os seus apelos sobre a economia do país. "Só quero que a minha voz seja ouvida. E quero que este Presidente saiba que não aceitamos o que ele está a fazer. A economia está má e nós não estamos contentes", afirmou.
Esta é a pior crise vivida por William Ruto desde que chegou ao poder, em setembro de 2022.
O Quénia, um aliado próximo do Ocidente, é uma das economias de mais rápido desenvolvimento em África, mas as desigualdades persistem. Um em cada três quenianos sobrevive com apenas dois dólares por dia, segundo o Banco Mundial.
Cinquenta vítimas mortais em protestos
Pelo menos 50 pessoas morreram, desde junho, durante os protestos anti-governamentais, que têm sido reprimidos com violência pela polícia, segundo um novo balanço feito esta terça-feira pela Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quénia (KNCHR).
A maioria das mortes, 21, foram registadas na capital, embora também tenham sido documentados óbitos nas cidades de Nakuru (centro), Kisumu (oeste) e Mombaça (na costa sul), entre outras, informou a KNCHR em um comunicado.
O número de feridos subiu para 413, enquanto 682 pessoas foram detidas "arbitrariamente" e 59 foram vítimas de sequestros ou desaparecimentos forçados. "Apesar dos contínuos apelos para o fim dos raptos, observamos que os sequestros, as detenções ilegais e a tortura de quenianos inocentes continuaram", lamentou a KNCHR.
Os manifestantes têm enfrentado a repressão das forças de segurança, que disparam gás lacrimogéneo, balas de borracha e até munições reais.