"Prisão foi uma grande escola para mim", diz Arão Bula Tempo
20 de maio de 2015Um grupo de personalidades angolanas, entre dirigentes políticos, lideres religiosos, jornalistas e ativistas dos direitos humanos, encontra-se desde terça-feira (19.05) no enclave de Cabinda, numa iniciativa que visa pressionar as autoridades de Luanda a libertarem o ativista dos direitos humanos, José Marcos Mavungo, de 52 anos.
Mavungo, foi detido no passado dia 14 de março, por encabeçar uma manifestação que nem sequer chegou de ser realizada. No primeiro dia de trabalho, o grupo composto por seis elementos efetuou uma visita à cadeia onde se encontra o ativista Marcos Mavungo.
Em entrevista à DW África, Filomeno Vieira Lopes, um dos porta-vozes da comitiva, voltou a reafirmar: "Não conseguimos ver indícios graves que justifiquem essa situação."
Sentir na pele para melhor compreender
Além de Marcos Mavungo, o grupo de individualidades angolanas manteve também um encontro com Arão Bula Tempo, de 52 anos, advogado e presidente do Conselho Provincial de Cabinda da Ordem dos Advogados de Angola, que há cerca de uma semana foi posto em liberdade na sequência de diligências naquela províncica de uma delegação da Procuradoria-Geral da República.O defensor dos direitos humanos passou mais de dois meses na prisão sem que o Ministério Público tenha conseguido provar as acusações contra a sua pessoa bem como contra o ainda detido Marcos Mavungo .
Em conversa com a DW África, essas foram as primeiras palavras do ativista Arão Bula Tempo: "Para mim a prisão foi uma grande escola. É necessário que neste preciso momento nós que defendemos e exercemos a profissão para uma administração da justiça e para todos os que defendem os direitos humanos é necessário de vez em quando aceitar as injustiças para compreender o estado da justiça e aquilo que acontece na nossa vida e na sociedade."
Tempo denuncia irregularidades na cadeia
Enquanto esteve na prisão, na cadeia civil de Cabinda, a principal penitenciária de máxima segurança onde são encarcerados alguns detidos considerados altamente perigosos, Arão Bula Tempo, conta o que ali presenciou: "De facto, vi situações terríveis, que omito qualquer opinião, mas apelo a todos os que intervém na administração da justiça poder refletir sobre o futuro da justiça em Angola. Há muitas injustiças, detenções arbitrárias que não deviam acontecer e naquelas condições em que os réus ou detidos se encontram."A todos quanto têm vindo a levantar a sua voz contra a sua detenção, assim como a de Marcos Mavungo, o presidente da Ordem dos Advogados de Angola em Cabinda, Arão Bula Tempo, dirigiu uma palavra: "Sentimos que não estávamos abandonados, porque o pilar da própria democracia era mesmo a contribuição da sociedade de direitos humanos."