Petrolífera gera temor de morte do Delta do Cubango
18 de novembro de 2020Um megaprojeto para a produção de petróleo está a gerar protestos no nordeste na Namíbia. O enorme depósito de crude foi encontrado pela empresa canadiana ReconAfrica e pode ser mais rica em petróleo do que o estado do Texas, nos Estados Unidos.
Apesar do potencial económico, ativistas estão a alertar para os riscos ambientais. Naquela zona, está o único rio da região que abastece não apenas os agricultores, mas também o famoso Delta do Cubango, no Botswana.
Ina-Maria Shikongo faz parte do movimento Fridays for Future, criado pela ativista norueguesa Greta Thunberg. A jovem prevê que o paraíso natural do Delta do Cubango pode ser em breve completamente contaminado.
"Todos nós sabemos o que aconteceu no Delta do Níger e qual é a situação de momento. Como pode uma empresa menor do que a Shell manter um ecossistema intacto? Podemos ver em todo o mundo o que acontece quando as indústrias fósseis entram em ação", adverte Shikongo.
A maldição do ouro negro
Ativistas ambientais temem que o cenário desolador de poluição no Delta do Níger se repita no Delta do Okavango. Na Nigéria, manguezais, pântanos e a água potável estão a ser contaminados. Fala-se da maldição do ouro negro. Mas os investidores veem isso de outra maneira.
A ReconAfrica tem licença para explorar 3,5 milhões de hectares de terra no nordeste da Namíbia e no noroeste do Botswana. A empresa canadiana foi aberta especificamente para explorar gigantescos depósitos de petróleo e gás no nordeste da Namíbia.
"As oportunidades aqui são enormes e temos claramente a vantagem de sermos os primeiros. Descobrimos algo em que acreditamos. Esta será uma nova e enorme bacia sedimentar. Teremos um futuro muito promissor", explica Doug Allan, representante da ReconAfrica, que vê com otimismo o projeto de exploração do crude.
Os primeiros de três furos de teste serão abertos no início de dezembro. Caso sejam encontrados os depósitos de petróleo, a produção deve começar em meados de 2021. Isso vai exigir água, algo raro numa zona desértica.
A empresa garante que não haverá poluição e que a população local vai ser beneficiada. Adolf Muremi, chefe da associação de agricultores em Rundu, é cético em relação às promessas.
“A ReconAfrica disse ter informado que as pessoas serão beneficiadas, mas não sabemos nada sobre isso. Já se podem esperar malformações em bebés e outras doenças que esse tipo de indústria pode causar. Isso terá consequências para as vidas das pessoas aqui. Não apoiaremos isso, porque sabemos que a longo prazo terá consequências negativas para todos nós."
O Governo da Namíbia garantiu uma participação de dez por cento no faturamento da empresa canadiana. Para ativistas ambientais, este valor é insuficiente.