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Parlamento aprova OGE de Angola

14 de fevereiro de 2013

Os deputados angolanos aprovaram, esta quinta-feira (14.02), o Orçamento Geral do Estado (OGE) 2013, com os votos do MPLA. Prevê-se um défice de 3,1 mil milhões de euros.

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Luanda, capital angolana
Luanda, capital angolanaFoto: AP

O Orçamento Geral do Estado para este ano prevê receitas e despesas no valor de 51,9 mil milhões de euros, o que representa um crescimento de 16,4 mil milhões de euros.

Foi aprovado confortavelmente apenas com os votos favoráveis dos 155 deputados do partido governamental, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

As duas maiores forças da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) disseram “não” ao documento, com 38 votos contra.

Registaram-se cinco abstenções nas bancadas do Partido de Renovação Social (PRS) e da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).
Justificando o voto contra, deputados da UNITA criticaram, na Assembleia Nacional, as verbas destinadas ao sector social (que representa 33,5% da verba total do OGE), em particular, à educação, saúde, agricultura e políticas para a juventude. Reclamaram ainda o aumento dos salários mínimos.

O documento tem como base a taxa de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de 7,1% e uma taxa de inflação de 9%.

O sector petrolífero contribui em 50% para o orçamento deste ano, as receitas do sector não-petrolifero têm uma participação de 17% e os financiamentos externos de 12%.

Um relatório do parecer final conjunto do debate na especialidade sobre o OGE traz algumas recomendações, sendo uma delas a solicitação para que o executivo apresente à Assembleia Nacional relatórios trimestrais de execução do orçamento e os respetivos balancetes. 

Saldo negativo

Pela primeira vez desde 2009, as contas públicas angolanas vão registar este ano um saldo negativo: um défice de 3,1 mil milhões de euros, segundo um estudo das organizações não governamentais angolanas Ação para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA) e o Observatório Político-Social de Angola (OPSA).
O défice do OGE equivale a 3,4% do Produto Interno Bruto (PIB) e resulta da diferença entre as receitas correntes, 38,2% do PIB, e as despesas, 41,6% do PIB.

Os gastos públicos propostos pelo OGE deste ano aumentam 26,7% quando comparados com as estimativas de execução do orçamento de 2012, inversamente as receitas caem 4,1%.

Orçamento "despesista"

Em entrevista a DW África, o economista angolano Carlos Rosado avaliou a proposta orçamentária.

DW África: O Orçamento Geral do Estado 2013, aprovado na generalidade em janeiro, será de quase 52 mil milhões de euros. Como avalia o orçamento?

Carlos Rosado (CR): Se fosse preciso uma palavra para caracterizar este orçamento eu diria expansionista. Porque temos um forte aumento da despesa pública, à volta de 27% na despesa pública prevista para 2013, quando comparada com a despesa pública executada em 2012. Estamos a falar de um aumento superior a 10 mil milhões de dólares (o equivalente a 7,43 mil milhões de euros) em 2013, enquanto o aumento do PIB não chega a 10 mil milhões de dólares.

DW África: Que problemas aponta neste orçamento?

CR: Em anos anteriores, havia despesas que não passavam pelo orçamento. Ao longo da guerra, a Sonangol [empresa petrolífera estatal] foi fazendo algumas despesas por conta do Estado, um exemplo concreto era o fornecimento gratuito de combustíveis a entidades públicas.
Segundo é referido pelo governo, todas as operações que estavam a cargo da Sonangol passam a estar incluídas no orçamento, o que influencia o crescimento da despesa.
Há outro aspecto que tem a ver com projetos de investimento que já estavam em execução mas que não estavam incluídos no orçamento. Aparentemente, esses investimentos passam a constar no orçamento. Esse expansionismo orçamental é fundamentalmente liderado pelo aumento do investimento.

DW África: Trata-se de investimento público?

CR: Exatamente. O nosso OGE tem uma rúbrica que é o programa de investimentos públicos. Nós passamos de investimentos de 10 mil milhões dólares (equivalente a 7,43 mil milhões de euros) em 2012, para investimentos de 16 mil milhões de dólares (cerca de 11,88 mil milhões de euros) em 2013.
Será que Angola tem capacidade institucional e técnica para executar num ano 16 mil milhões de dólares de investimentos? Eu temo que uma parte dos investimentos que vão ser realizados possa vir a ser dinheiro atirado pela janela.

DW África: Acredita na promessa de maiores investimentos no sector social, ao qual o orçamento prevê destinar 33,5% da verba total?

CR: Já houve em anos anteriores fatias para o sector social superiores àquela que está prevista para este ano. E há um aspecto no sector social que deve ser destacado: a despesa social, no caso de Angola, inclui os subsídios aos combustíveis – subsídios que são injustos, porque privilegiam os mais ricos, e ineficientes, porque promovem uma alocação ineficiente dos recursos. Segundo as minhas contas, se nós retirarmos da despesa social os subsídios aos combustíveis, a fatia das verbas destinadas ao sector social é inferior a 30% do OGE.
Mais de 17% do OGE vai para despesas com defesa e segurança, quando a educação e a saúde juntas consomem apenas 13,4% do orçamento. É verdade que as verbas para a educação aumentaram mas é verdade também que: enquanto as verbas para o ensino superior mais do que duplicaram, as verbas para o ensino básico aumentaram apenas 8%. Os nossos problemas estão principalmente no ensino secundário e, portanto, eu não entendo como é que o ensino superior tem um orçamento praticamente igual ao do ensino secundário.

DW África: O que foi discutido pelas comissões parlamentares, desde a aprovação do OGE na generalidade a 15 de janeiro?

CR: A proposta do OGE para 2013 terá sido talvez a proposta mais discutida. Se nós quisermos fazer uma boa discussão, que tenha efeitos concretos no OGE, temos que começar muito antes. Portanto, é positiva a discussão mas muito tardia. A lição a tirar para o próximo ano de 2014 é iniciarmos essa discussão muito mais cedo.

Autora: Luisa Frey
Edição: Glória Sousa / António Rocha

Parlamento aprova OGE de Angola

Carlos Rosado lamenta que não haja maior investimento no ensino secundário
Carlos Rosado lamenta que não haja maior investimento no ensino secundárioFoto: picture-alliance/dpa
As despesas da petrolífera estatal Sonangol constam no orçamento de Estado
As despesas da petrolífera estatal Sonangol constam no orçamento de EstadoFoto: AP
Schlammiger Alltag: Im Armenviertel Cazenga, im Westen der Hauptstadt Luanda, leben etwas mehr als 400 Tausend Menschen auf etwa 40 Quadratkilometern. Wegen starken Regenfällen müssen die Bewohner durch den Schlamm waten. Aus dieser Gegend stammen viele Politiker der Regierungspartei MPLA. "Eine der Prioritäten von einst armen Politikern ist das schnelle Reichtum", erkl ärt der angolanische Ökonom Fernando Heitor. 04.11.2012, Luanda Copyright: DW/Renate Krieger
O OGE angolano destina 33,5% dos recursos ao sector socialFoto: DW/R. Krieger
Liderada por Isaías Samakuva, a UNITA votou contra o OGE na especialidade, após abstenção na votação na generalidade
A CASA-CE, presidida por Abel Chivukuvuku, considera o OGE "despesista e pouco transparente"Foto: Quintiliano dos Santos
Liderada por Isaías Samakuva, a UNITA votou contra o OGE na especialidade, após abstenção na votação na generalidade
Liderada por Isaías Samakuva, a UNITA votou contra o OGE na especialidade, após abstenção na votação na generalidadeFoto: DW/Renate Krieger
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