"É uma pouca vergonha": UNITA critica "caça às ossadas"
1 de setembro de 2023Desde o início de agosto, uma equipa liderada pelo diretor do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE) de Angola, Fernando Garcia Miala, está à procura de valas comuns na Jamba, no Cuando Cubango e também no Cuemba, província do Bié, onde terão sido enterrados membros da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), alegadamente mortos a mando de Jonas Savimbi.
A Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP) diz ter encontrado quatro covas no município do Cuemba, no Bié, com ossadas de Ana Savimbi, primeira-dama do fundador da UNITA, e dos generais Bock, Perestelo, Tarzan e Antero.
O objetivo final é garantir um funeral condigno aos angolanos mortos durante a guerra no país, disse à Televisão Pública de Angola o porta-voz da CIVICOP, Israel Nambi.
"Esse trabalho é consequência dos trabalhos já feitos em Luanda, que resultaram na entrega de restos mortais dos oficiais da UNITA que faleceram em 1992, e também como consequência dos trabalhos que deram lugar à entrega dos restos mortais das vítimas do 27 de maio. Agora os trabalhos desdobram-se para a região da Jamba e aqui também na localidade do Cuemba, onde já foi possível obtermos restos mortais em que os exames forenses vão identificar de quem se trata", explicou.
O local onde foram encontradas as supostas vítimas de Savimbi será transformado em monumento, garante Israel Nambi.
"Poderemos também nesta altura convidar os familiares para virem aqui conhecer o local, e futuramente podermos colocar aqui um marco histórico, uma vez que o grande propósito desta iniciativa é a pacificação dos espíritos, o perdão e a reconciliação nacional", acrescentou.
Entretanto, as partes dos corpos encontrados serão transportados para o Laboratório de Criminalística de Luanda para os testes de DNA.
UNITA duvida da credibilidade dos resultados
"Abraçar e perdoar" é o lema da CIVICOP, órgão que está a trabalhar para a localização e entrega dos restos mortais de pessoas mortas durante o conflito político de 1975 a 2002 em Angola.
Integram a comissão várias organizações, inclusive representantes do maior partido na oposição.
A UNITA diz que os seus membros não foram informados sobre os trabalhos das escavações nas zonas que controlava durante o período de guerra.
O líder do "Galo Negro", Adalberto Costa Júnior, critica a procura de ossadas das supostas vítimas do fundador da UNITA, publicitada em cadeia nacional. E diz que o ato visa "abafar" o processo de destituição de destituição do Presidente angolano, João Lourenço.
"Um chefe do serviço de inteligência que não andou a mostrar às câmaras as valas comuns aqui em Luanda, vejam a velocidade com que ele foi à procura de valas comuns na Jamba. Isso é bonito? Aqui [em Luanda] não há valas comuns não é? Aqui não se matou ninguém? Aqui não se mataram angolanos? Aqui no 27 de maio foram só palmas, festas e flores não é?", questionou.
Adalberto Costa Júnior afirma que o partido que dirige não "foge das suas responsabilidades históricas". E é por essa razão que a UNITA tem dirigentes na CIVICOP.
Costa Júnior dúvida da credibilidade dos resultados que estão a ser apresentados pela equipa liderada pelo general Fernando Miala.
"Vimos uma delegação a partir sem ninguém acompanhar. Foram sozinhos. Tem credibilidade aquilo que nos vão anunciar? É uma pouca vergonha. Incompetentes. Vimos múltiplas guerras neste país. O angolano sofreu muito. Que atire a primeira pedra quem pensa que está imune de responsabilidades nestas guerras e nestas mortes", criticou.
A Fundação 27 de Maio recusou fazer parte desta "caça às ossadas", porque até agora não há explicações sobre a entrega dos restos de outros individualidades mortas em 1977.
Em declarações à DW África, o presidente da Fundação, general Silva Mateus, diz que o MPLA ainda não devolveu os restos mortais dos músicos David Zé Urbano de Castro e Artur Nunes.
"Não iríamos na Jamba à procura de restos mortais de dirigentes da UNITA mortos pelo Savimbi, quando o próprio MPLA e o seu Governo ainda não nos entregou as ossadas dos nossos mortos aqui do 27 de maio. O que mais preocupa, é que o Presidente da República quando pediu perdão pelos acontecimentos do 27 de maio, citou nomes de individualidades cujos restos mortais não foram entregues, três anos passados", lamentou.