Oposição em Angola: União para a alternância em 2021?
7 de janeiro de 2021Como é que a oposição angolana se vai posicionar este ano? Em entrevista à DW África, Maurílio Luiele, deputado da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), não deixa margem para dúvidas: "O aprofundamento da democracia neste país passa, incontornavelmente, pela alternância".
Para o deputado, esta é "a razão de fundo" em que o maior partido da oposição acredita e "passa por se fazer previamente algumas reformas que garantam transparências e verdades nos processos eleitorais".
Adão Ramos, político do Bloco Democrático, segue a mesma linha. Entende, por exemplo, que, em 2021, a oposição deve fazer maior aproveitamento dos protestos de rua contra a governação do Presidente João Lourenço "para que se reverta a seu favor em forma de voto e se consiga desalojar esse partido que está aí desde 1975".
Unidos, apesar das diferenças
Mas haverá união na oposição para que essa alternância ocorra? Adão Ramos rejeita opiniões em contrário: "Simplesmente são partidos diferentes, têm maneiras diferentes de ser e de estar na política e se colocar à altura dos desafios do momento neste mercado".
O político do Bloco Democrático acrescenta que, sempre que a oposição pode, toma posições conjuntas. "Em determinados momentos estão alinhados, concertam e tomam posições conjuntas, e noutros momentos cada um, de acordo com a sua agenda, a sua estratégia, a sua linha ideológica, entende posicionar-se de forma autónoma", sublinha.
A UNITA poderá até propor uma frente única, avança Maurílio Luiele: "Se estivermos divididos, não conseguiremos de maneira alguma protagonizar alternância como se pretende. A UNITA fala inclusive numa frente patriótica para alternância."
Divisões devem manter-se
Porém, alguns observadores duvidam que a oposição venha a unir-se este ano ou no próximo contra o partido no poder, o MPLA. "Não acredito muito que a oposição venha a falar uma só voz tendo em conta uma série de questões que têm a ver, sobretudo, com as clivagens", diz o analista Ilídio Manuel.
"Temos hoje uma CASA-CE que está mais próxima do partido governante e não acredito que ela venha a aproximar-se da UNITA que, nessa condição, seria a terceira força com maior possibilidade. Vamos ter uma oposição dividida e isso, naturalmente, favorece o partido governante", considera.
O analista Agostinho Sicatu admite que a oposição angolana estará unida nalguns assuntos, mas destaca uma fonte de desunião: os supostos pactos que alguns fazem com o partido no poder. "Há partidos políticos que não têm como sobreviver e vão fazendo uma espécie de parcerias estratégicas para determinados assuntos que, às vezes, saem caras", afirma.
"Tanto é que por vezes vemos que, em assuntos de interesse nacional, em assuntos tão delicados, a oposição é completamente dividida e o partido no poder tira sempre vantagens", acrescenta. O analista espera que 2021 seja para a oposição "o ano de um trabalho mais dinâmico para se tornar alternativa do poder."
Novos partidos: Reforços ou obstáculos?
Em Angola, a UNITA, a CASA-CE, o PRS, FNLA e a APN formam a oposição contra o MPLA. Mas, nos próximos tempos, este bloco opositor pode ser reforçado com o surgimento de novos partidos que estão na forja. Por exemplo, o Partido Humanista de Angola, da jurista e jornalista Bela Malaquias, e o Njango, associado ao ex-ministro "Dinho" Chingunji, ambos antigos militantes do "Galo Negro".
Ilídio Manuel afirma que estas iniciativas políticas já estão a ser encaradas pela sociedade com alguma "desconfiança", com os críticos a prever que "irão fazer o jogo do partido governante".
Para trás parece já ter ficado o Partido do Renascimento Angolano-Juntos por Angola (PRA-JA), de Abel Chivukuvuku. E o seu futuro político, diz Ilídio Manuel, é neste momento "uma incógnita".
"Ficamos sem saber se de que lado se vai [Chivukuvuku] posicionar na oposição. Mas ele próprio garantiu que não vai ficar de fora. Há essa incógnita toda à volta disso", sublinha.