ONU: Fome requer mais atitude das autoridades moçambicanas
17 de setembro de 2017Moçambique já possui programas e políticas nacionais de combate à fome. No entanto, pelo menos sete milhões de pessoas ainda sofrem de insegurança alimentar – quando não sabem qual será a sua próxima refeição, nem como vão obtê-la. As informações são do Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas (PMA).
Em entrevista à agência de notícias Lusa, a diretora do PMA, Karin Manente, afirmou que "falta a ligação das políticas ao terreno e falta uma visão multisetorial", sublinhou, uma visão que abranja também a agricultura e o comércio.
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Karin Manente também disse que, no caso das políticas públicas e programas de erradicação da fome em Moçambique, o que falta é "operacionalizar". Ou seja, fazer com que todos os envolvidos passem das palavras à prática.
Pode parecer fácil, "mas não é", porque "há muito trabalho para fazer" até que os mecanismos que garantem que a comida chega a todos se tornem numa rotina, ponderou a diretora do PMA.
Um exemplo deste trabalho, que é desenvolvido pelo PAM no país, é quando há episódios de fome em zonas onde há défice de culturas agrícolas, mas noutras "há excedentes". Uma das tarefas do PMA tem sido comprar nesses locais para levar para onde faz falta.
Acabar com a fome até 2030
Apesar de ainda registar pelo menos sete milhões de pessoas – 25% da população de 28 milhões de moçambicanos –, o país "já deu passos importantes" ao reduzir a fatia da população sujeita a insegurança alimentar, que há 10 anos chegava a 50%.
Se todas as boas práticas e políticas já escritas em Moçambique passarem à prática, Karin Manente acredita que será possível cumprir no país o objetivo "Fome zero e agricultura sustentável", o segundo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da lista de metas propostas pela ONU até 2030.
O ODS 2 rege o plano estratégico do PMA para os próximos cinco anos em Moçambique, um plano que prevê um orçamento anual (ainda a ser angariado) de 140 milhões de euros para apoiar um milhão de pessoas (em média, por ano).
A maioria do investimento vai para a distribuição direta de alimentos a quem precisa, através de entrega em espécie ou por intermédio de vales a redimir nos mercados.
Depois, "há o lado de análise e capacitação, treinos, lado a lado" com diversas entidades, com parte dos recursos "dirigidos para o Governo e outra parte para os parceiros e comunidades. Muito pouco fica para o PMA em si", referiu.
Paz contribui no combate à fome
A trégua sem prazo anunciada pelo braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, pôs termo aos riscos de novos confrontos com as forças armadas no centro do país e isso são boas notícias para a intervenção do PMA.
"O impacto operacional" das hostilidades entre 2015 e 2016 "não foi muito grande, mas é claro que a situação agora melhorou".