O impacto dos ritos de iniciação na educação moçambicana
24 de julho de 2015Os ritos de iniciação são uma prática cultural enraizada nas comunidades moçambicanas, que nem sempre reúne consenso quanto aos seus benefícios.
Nos debates sobre esta temática, persiste a ideia da necessidade de melhorar a comunicação com os intervenientes desta prática, com vista a reduzir os altos níveis de desistência das crianças.
Dados do Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano indicam que só em 2014, a taxa de desistências atingiu cerca de 14% do universo de alunos inscritos - e os ritos de iniciação tiveram um grande peso para o cenário.
Apesar desta situação, Stela Manguele, do Ministério de Saúde, é favorável à preservação dos ritos de iniciação, excluindo-se, porém, conteúdos nocivos.
"Existem boas coisas que podem ser aproveitadas, como as madrinhas educarem as crianças e dizerem: casar só depois dos 18 anos", avalia. Manguele acrescenta que é preciso também "ter uma conversa para várias faixas etárias".
Opiniões divergentes
Já Albino Francisco, da Rede de Organizações da Sociedade Civil para os Assuntos da Criança (ROSC), não vê vantagem alguma. Por isso, defende a total eliminação da prática.
"Na minha opinião, o rito de iniciação no seu todo deve ser compreendido. Não sou tanto apologista daqueles que dizem que os ritos de iniciação não são maus de todo, até há práticas positivas dos ritos de iniciação. Não consigo ver quê práticas positivas são essas que existem dentro dos ritos de iniciação", considera.
Por seu lado, Zaida Cabral, do Movimento Educação Para Todos (MEPT), analisa o problema do ponto de vista de sua origem e conclui que é necessário um trabalho profundo para a definição de estratégias comunicativas que evitem a desistência das crianças ao ensino, sem extinguir os ritos de iniciação. "É aquela questão de não violar os hábitos e os costumes das famílias", explica.
Papel dos professores
O Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano de Moçambique destaca o papel dos professores para a retenção das raparigas na escola, perante um cenário de práticas culturais desfavoráveis ao ensino.
“Nós temos um desafio muito especial na formação dos professores, porque tudo parte também de como é que nós formamos os nossos professores, como é que os preparamos. Até que ponto conseguem ler, interpretar o meio social e adaptar a sua intervenção, o seu papel, a este meio social que é importante,” defende Eurico Banze, porta-voz do Ministério.