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Desistência de raparigas no ensino moçambicano

Manuel David (Lichinga)23 de fevereiro de 2015

Mais de 178 raparigas no distrito de Sanga na região norte da província do Niassa, norte de Moçambique, desistiram nos últimos três anos do sistema nacional de ensino devido a fatores culturais.

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Rapariga e um menino com baldes vão buscar águaFoto: DW/M.David

Apesar do Governo e os seus parceiros de cooperação estarem a intensificar campanhas de combate às desistências de raparigas nas escolas das zonas rurais da província do Niassa parece que a medida não está a dar os resultados esperados no seio das comunidades.

Ao longo dos últimos três anos, mais de 178 raparigas do distrito de Sanga, norte do Niassa, desistiram de frequentar as aulas por razões ligadas aos casamentos prematuros, ritos de iniciação e nomadismo por parte dos pais que procuram terras férteis para a prática de agricultura.

A informação foi avançada por Arnaldo António, diretor da Escola 4 de Outubro localizada no distrito de Sanga: "Atualmente a desistência, de forma massiva, já não existe, mas ainda existe uma tendência para a desistência. Estamos a fazer tudo para que esta tendência desapareça, principalmente no seio das raparigas."

Há melhorias, apesar de tudo

Schule in Chiconono, Mosambik
Escola de Chiconono, Muembe, província do NiassaFoto: DW/G. Sousa

Mas Paulino Mussa, administrador do distrito de Sanga, ciente da realidade, desdramatiza o fenómeno ao afirmar que se registaram algumas melhorias no distrito.

Mussa lembra que "o problema de desistência, sobretudo com a rapariga nas escolas, sempre existiu, mas ultimamente esse assunto é um fenómeno que já está a ter alguma solução, embora não imediata. Já existe uma grande compreensão por parte dos pais e encarregados de educação sobre este problema."

Entretanto Jorge Ferrão, ministro da Educação e Desenvolvimento Humano, que visitou recentemente aquele distrito, disse que deve ser permanente a retenção da rapariga no ensino como forma de valorização da cultura duma sociedade.

Em Sanga, Ferrão fez a seguinte constatação: "Aqui pude notar que vocês continuam a ter uma grande desistência nas escolas por parte das nossas meninas. E sabemos que as meninas estão a deixar a escola porque têm de ajudar em casa, deixam a escola porque têm de casar. 10, 11, 12 anos, ela que ainda não viveu já começa a ser mãe de uma outra criança. Isso nós não mudamos de uma forma administrativa, mas mudamos a partir do momento em que a escola começa a influenciar as famílias."

O ministro da Educação e Desenvolvimento Humano acrescentou ainda que o abandono das aulas pelas raparigas é um desperdício: "Aquelas meninas que estamos a deixar ficar fora são meninas muito inteligentes e que estamos a deixar ficar atrás. São meninas que podiam ser médicas, engenheiras, professoras, agrónomas, mas é preciso que a gente trabalhe no sentido de inverter a situação."

Ein Straße in Sanga
Vila de Sanga, NiassaFoto: DW/M.David

Jorge Ferrão destacou que "tirar as a meninas da escola muito cedo não vai ajudar o país" e concluiu: "Não é esse Moçambique que queremos ver desenvolvido".

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