Novo aeroporto de Luanda: Um elefante branco em Angola
9 de setembro de 2019A ideia era construir um novo aeroporto internacional em Luanda com capacidade para 13 milhões de passageiros por ano. Mas, 15 anos depois, o projeto continua por concretizar.
Para o jornalista angolano Rafael Marques, este "é um dos maiores elefantes brancos em África".
"Inicialmente, o projeto estava orçado em 300 milhões de dólares, mas subiu para 9 mil milhões. E não há fim à vista", comenta Marques em entrevista à DW.
A empresa China International Fund (CIF) geriu inicialmente a construção do novo aeroporto de Luanda. As obras começaram em 2005, durante a Presidência de José Eduardo dos Santos. Mas a CIF foi entretanto afastada "por inconformidades e incapacidade declarada" da empresa, anunciou este ano o novo Governo angolano, liderado por João Lourenço.
"Saquear os empréstimos"
A inauguração do aeroporto esteve inicialmente prevista para 2015 ou 2016. Foi depois adiada para 2017. Agora, passou tanto tempo que o plano de construção ficou desatualizado e, de acordo com o Governo, será preciso fazer ajustamentos técnicos e de funcionalidade.
"Ao olharmos para o que foi construído até aqui, é um projeto que foi feito para saquear os empréstimos que a China concedeu a Angola para a reconstrução nacional", afirma Rafael Marques. "É um projeto de construção que nunca mais tem fim e que, nesta altura, não faz muito sentido e deixa o Estado angolano altamente endividado."
O projeto do novo aeroporto está agora nas mãos de outra empresa chinesa, a AVIC.
China interessada em África
Nem todos os projetos chineses têm gerado "elefantes brancos" como este em Angola.
Ao todo, segundo o jornal oficial "China Daily", a China já completou a construção de 14 aeroportos no continente: reabilitou o aeroporto internacional de Entebbe, no Uganda, construiu um novo terminal no aeroporto internacional de Adis Abeba e também esteve envolvida em projetos aeroportuários em Moçambique e na Namíbia, por exemplo.
O interesse da China em África é grande, comenta o politólogo alemão Sven Grimm. O Governo de Pequim está interessado "na internacionalização, em ter acesso aos mercados e em dar vazão à mão de obra em excesso no setor da construção", diz.
Por outro lado, "o financiamento de infraestruturas vai de encontro a uma grande necessidade em África", refere o politólogo do Instituto Alemão para Política de Desenvolvimento, em Bona.
A curto prazo, isso é bom para o continente. Mas, a longo prazo, quem lucra é a China, lembra Grimm: "Quando as coisas são construídas de fora, não se cria necessariamente postos de trabalho. A China lucra ao apoiar ativamente as suas próprias empresas".
"Elefantes brancos"
Sendo assim, segundo o politólogo, não seria do interesse da China criar "elefantes brancos", por uma questão de reputação. "É um capital político significativo que pode eventualmente ser desperdiçado, e a China deve ter cuidado para não ganhar fama de financiar elefantes brancos em demasia", afirma Grimm.
Sobre o novo aeroporto internacional de Luanda, o jornalista angolano Rafael Marques pede esclarecimentos - não só ao Governo angolano, como também ao Executivo chinês. É preciso saber o que aconteceu ao dinheiro, refere Marques.
"Se os contratos tivessem sido feitos como deve ser e houvesse uma supervisão do Governo chinês, responsável pelos empréstimos, não estaríamos nesta situação. Por isso, deveriam responsabilizar-se pelo que aconteceu", diz.
A nova data apontada para a conclusão do novo aeroporto internacional de Luanda é 2023. Mas o jornalista desconfia: será preciso esperar para ver. A empresa de consultoria Fitch Solutions estima que Angola terá disponibilizado mais de 6,5 mil milhões de dólares para o financiamento do projeto.
Artigo atualizado a 18 de setembro de 2019, corrigindo o ano do início das obras do aeroporto e acrescentando informações em relação ao financiamento.