Elite "cerca" obras do Aeroporto Internacional de Luanda
6 de março de 2014Pela terceira vez, em nove anos, o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, visitou, a 19 de Fevereiro passado, as obras de construção do novo Aeroporto Internacional de Luanda.
As obras têm estado a cargo da China International Fund (CIF), uma empresa obscura, criada em 2003, que não tinha construído o que quer que fosse até à data da adjudicação da obra, segundo o defensor dos direitos humanos angolano Rafael Marques. A DW África entrevistou-o a propósito deste assunto.
DW África: Em que contexto é feito este investimento?
Rafael Marques (RM): Para um aeroporto internacional este é definitivamente o maior investimento feito em África e em circunstâncias, obscuras, opacas, e com poucas respostas para a curiosidade dos angolanos, que em princípio devem ser os principais beneficiários dessa obra.
DW África: Os custo do início do projeto aumentaram?
RM: Incialmente quando se falou do novo aeroporto falou-se em 350 milhões de dólares e a China condecedeu uma linha de crédito de mais de 450 milhões de dólares para a construção do referido aeroporto. Esse tipo de obras, em princípio, devem ser aprovadas pelo Parlamento e devem constar do Orçamento Geral do Estado (OGE), mas a obra do aeroporto não consta e não constou do OGE, é uma obra paralela e já se fala em pareceria com sócios angolanos e um dos nomes que se aventa é do próprio filho do Presidente da República, José Filomenos dos Santos.
É tudo gerido com base em relações estabelecidas pelo então director do gabinete de reconstrução nacional, o general Manuel Vieira Dias "Kopelipa", que é também ministro de Estado e chefe da casa de segurança do Presidente da República. E a opacidade das obras e dos custos continua a ser tratada como se fosse um segredo de Estado.
DW África: Seria então um verdadeiro negócio da China?
RM: Com certeza que é um verdadeiro negócio da China que prejudica bastante o país, Angola precisa certamente de um novo aeroporto internacional, mas vejamos, há aqui dados importantes, o aeroporto está a ser construído a 40 kilómetros da cidade e não se pensou na realização de obras, como uma linha ferroviária, ou vias rápidas que permitam o acesso fuincional ao aeroporto.
DW África: Angola quer ser uma espécie de ponto de partida para toda África ("hub" em inglês). Como avalia as chances da TAAG, as linhas aéreas de Angola, montarem um "hub" em Luanda?
RM: Não há um plano que garanta que Angola venha a ter essa capacidade, porque se olharmos para a TAAG veremos que ela continua a ter dificuldades em voar dentro do país e mesmo para a Europa, continua limitada a Portugal, porque continua a constar da lista negra das companhias aéreas que não podem voar para a Europa, e Portugal abriu uma exceção. Então, há muito trabalha que deveria estar a ser feito durante esse anos para garantir que esse aeroporto tivesse uma utilidade maior.
DW África: O Executivo de Angola e o próprio Presidente José Eduardo dos Santos tem admitido erros ou têm apresentado este projeto como uma história de sucesso?
RM: Tem sido apresentado como uma história do que vai acontecer. Em Angola temos uma expressão muito gira quando não sabemos bem o que dizer, "estamos a criar as condições", então, o aeroporto é um bom exemplo de como o Governo há 9 anos está a criar as condições para ter um novo aeroporto. E o Presidente já vistou 3 vezes as obras do aeroporto e há sempre promessas, se que será no próximo ano, ou dentro de dois anos e haverá isto ou aquilo.