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Namíbia enfrenta crise económica

Chloe Lyneham | Anna Saulkeus | Reuters | rl
2 de fevereiro de 2018

Fatores externos desfavoráveis e uma má gestão dos recursos públicos colocaram a Namíbia frente a uma crise económica. O Governo já não está a alimentar o seu exército e o Presidente deixou de usar o seu jato particular.

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Namibia Wirtschaft Luftfahrt
Foto: Imago/VIADATA

O Presidente da Namíbia, Hage Geingob, suspendeu as viagens de negócios ao estrangeiro a todos os funcionários públicos numa tentativa de controlar os gastos do Governo. A Namíbia está a enfrentar uma crise financeira grave. Nos últimos anos, a dívida pública tem aumentado, o que fez já com que a agência de rating Moody's considere o país "lixo”.

"Com o intuito de reduzir a despesa pública, nenhum pedido de viagem para o estrangeiro será considerado até ao final de fevereiro de 2018", afirmou esta quarta-feira (02.02), Albertus Aochamub, porta-voz da presidência, deu conta a agência de notícias AFPE.

O próprio Presidente optou por se deslocar à cimeira da União Africana, em dezembro passado, num voo comercial em vez de ir no seu jato particular, como era habitual. Neste sentido, Hage Geingob passará apenas a deslocar-se ao estrangeiro em viagens essenciais e com "delegações menores”, acrescentou Albertus Aochamub.

A contenção de gastos surge depois do exército do país ter anunciado, na semana passada, que não tem condições para continuar a pagar as despesas nas suas bases militares, nomeadamente, as contas da água e eletricidade e os mantimentos para os militares. Milhares de soldados voltarão assim no próximo mês às suas casas sem data para o regresso ao ativo.

Crise económica

Ouvido pela DW, o economista Henning Melber explica que a crise na Namíbia é fruto "da combinação de fatores externos infelizes e a má gestão económica doméstica".

Indiens Einsatz in Afrika Uranium Mine in Namibia
O baixo preço do urânio está a prejudicar a economia da NamíbiaFoto: Getty Images/AFP/A. Joe

A Namíbia é tida em alta consideração por ser uma nação estável, democrática e rica em minerais. No entanto, este especialista ressalta que a crise atual é o resultado de eventos e ações que se foram sucedendo nos últimos anos. "É claramente uma indicação de que o governo continua a enfrentar uma forte crise económica e não é capaz de mobilizar fundos para favorecer o investimento em infraestruturas", afirma.

O mesmo especialista explica que entre os principais fatores que prejudicaram a economia da Namíbia estão a "seca no sul de África”, ligada ao fenómeno El Niño. Também a indústria da pesca, muito importante no país, tem sido afetada. A população de sardinhas, por exemplo, sofreu uma forte redução e talvez não volte a recuperar-se, frisa. Variações no dólar namibiano e no preço dos minerais, principalmente  do urânio, são também apontadas.

Problemas internos

A todos estes fatores externos junta-se a governação do atual Presidente da Namíbia que tem piorado a situação. Recentemente, o jornalista Gwen Lister escreveu no jornal "The Namibian”: "O Presidente Geingob já sinalizou 2018 como o "ano das avaliações” no qual devemos avaliar as despesas e burocracias excessivas que o país não pode pagar".

Uma visão partilhada por Henning Melber. Segundo o economista, "desde 2015, e sob o novo Governo do Presidente Hage Geingob, "houve um aumento expresso no número de ministros, vice-ministros e assessores especiais no Estado que fez aumentar muito os custos”. As despesas com os serviços e funcionários públicos tornaram-se "insustentáveis” e são equivalentes "a mais de 50% do orçamento anual" do país.

Ao todo, diz o economista, existem cerca de 100.000 funcionários públicos num país de 2,2 milhões de habitantes. É nesta área que devem ser feitos cortes, considera. Henning Melber acrescenta ainda que são "os pobres os mais afetados por esta crise económica”.

Namíbia enfrenta crise económica

Ao jornal local "The Namibian”, o ministro dos Assuntos Presidenciais, Frans Kapofi, elogiou os novos cortes orçamentais. Questionado sobre se um mês de cortes nas viagens estrangeiras dos funcionários públicos seria suficiente para a crise do país, Kapofi respondeu que "ainda que fosse pouco, seria poupado algum dinheiro”.

População dividida

A viver em Windhoek, o namibiano Fabian Amukwelele, apoia a decisão do Presidente Geingob. "Acho que é uma ótima idéia, embora por um curto período de tempo”, começar por afirmar, acrescentando que esta "é uma forma de motivar outros a fazer o mesmo. Acho que neste caso não é o tempo que importa, mas o que este gesto pode desencadear noutras pessoas que estão em posição de poder cortar no seu orçamento e usar os recursos de uma maneira mais produtiva. Acho que é esta a mensagem que o chefe de Estado queria passar”.

Uma opinião que não é partilhada por um outro namibiano. Dietrich Remmert entende que o corte anunciado "é mais um exercício de relações públicas”. "Não acredito que tenha impacto na economia”, conclui.