Delegada da RENAMO diz que não há paz em Moçambique
4 de outubro de 2021Exatamente 29 anos depois da assinatura do Acordo Geral de Paz entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) para acabar com a guerra civil em Moçambique, a delegada na Zambézia do maior partido da oposição, Maria Elisa, garante que não há nem nunca houve paz propriamente dita, porque os acordos foram violados pelo Executivo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
"Não estamos a viver a paz que, por exemplo, a população da Zambézia poderia usufruir", começou por dizer Maria Elisa esta segunda-feira (04.10) em Quelimane.
"A população está a viver em turbulência. Temos a questão do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) que não foi resolvida. Que paz é essa que os nossos governantes querem?", questionou a delegada da RENAMO.
"A população não está a viver a paz que se anda a propalar a nível nacional. Na Zambézia temos irmãos desmobilizados, mas é difícil receber uma porção de terra para poder construir a sua moradia", denuncia a responsável.
Viver em piores condições
Maria Elisa ressalta que muitos antigos guerrilheiros veteranos foram desmobilizados, embora vivam hoje com piores condições de vida após o início do DDR.
A delegada tem conhecimento de vários casos de antigos combatentes em Morrumbala, Gurúe, Gile e Milange, que não têm uma habitação para se acomodar nem sequer receberam apoios no âmbito do DDR.
"Estamos a ir mais para o fundo do buraco. Não há paz. Posso dar o exemplo de hoje, já que um número de simpatizantes da RENAMO foi escorraçado pela polícia e eu não sei porquê", frisou.
A paz veio para ficar?
As cerimónias do 4 de outubro na Zambézia foram presididas pela secretária de Estado, Judith Mussacula, que - ao contrário da dirigente da RENAMO - diz que a paz em Moçambique veio para ficar.
"Celebramos hoje o 29º aniversário da assinatura do Acordo Geral da Paz sob o lema moçambicano unidos pela paz, reconciliação e justiça", mencionou a governante. "O Acordo Geral da Paz é resultado do trabalho árduo e da cooperação de inúmeros líderes, cidadãos moçambicanos e partidos políticos", acrescentou.
"A união, reconciliação e a justiça devem ser elementos cruciais de cada moçambicano, rumo ao desenvolvimento socioeconómico do país. A paz constrói-se todos os dias e a paz efetiva implica a eliminação dos fatores que alimentam os conflitos", concluiu.
Numa mensagem apresentada pelo padre Mobilo Rafael, as congregações religiosas referem que Moçambique precisa de uma nova cultura política de tolerância.
"A mensagem das confissões religiosa está ligada aos mais altos desejos e aspirações do povo moçambicano: a luta pela busca de paz, assistência espiritual e moral e humanitária. Falar de paz é falar de um bem supremo que passa pelo respeito da dignidade humana e justa liberdade", afirmou.