Moçambique: Quem afinal atacou Muanza?
29 de setembro de 2021A população do povoado de Nhamassindzira conta ter chegado à aldeia um grupo de pelo menos quatro homens com três armas de fogo em punho, vestidos à civil, e que começaram a pedir comida de casa em casa. Não tendo sucesso na aldeia, pediram catanas e facas em algumas casas e obrigaram alguns populares a lhes acompanhar em direção a um mercadinho local, contou um morador em anonimato.
"Estes homens passaram ali na minha casa, levaram os meus dois irmãos e uma catana, e foram ao mercado onde fizeram ação… As pessoas que tinham armas eram três, de onde eles vinham não disseram e eles não tinham fardamento", relata.
Em Chinapamimba, o grupo disparou tiros e assaltou um estabelecimento. O residente Titos Domingos conta que "quando chegaram à banca, pediram comida, então os donos da banca disseram que não tinham comida para oferecer, então como eles não se entendem com as outras pessoas começaram a fazer as suas coisas que só eles sabem, dispararam alguns tiros, vandalizaram a banca, esfaquearam uma senhora até a morte, um menino foi alvejado na palma da mão, e então o outro jovem que foi alvejado foi imediatamente socorrido para o hospital central da Beira, mas não chegou com vida... Morreu nas proximidades de Derunde e acabaram voltando para Chinapamimba".
Ainda segundo Domingos, "o grupo era composto por quatro a cinco pessoas, mas ouvimos dizer que por este lado de Inhaminga passaram cerca de 16 pessoas, mas cá em Chinapamimba apareceram cinco".
Clima de medo instalado
Naquela comunidade reina um clima de tensão e medo entre os moradores. Muitos estão a dormir nas matas por temer uma nova visita dos atacantes. A presença da polícia logo após ao ataque trouxe alguma segurança, mas foi por pouco tempo, disse um residente.
"Até outros estão a dormir nas matas por causa do medo, agora mesmo, para andar sozinho no caminho, até mete medo. Até o que ajudou um pouco foi a presença dos polícias que chegaram tempo depois, ficaram alguns dias e regressaram", relata outro morador de Chinapamimba.
Polícia acusa Junta Militar da RENAMO
No dia 22 de setembro, a polícia apontou o dedo acusador à Junta Militar dissidente da RENAMO, o maior partido da oposição, como autora do crime e garantiu que trabalha para neutralizar e responsabilizar os atacantes. Sobre o resgate das sete pessoas raptadas, o comandante provincial da polícia, Joaquim Sive, nada avançou na altura.
"De facto tivemos este evento na localidade de Chinapamimba, no posto administrativo de Galinha, ação que foi protagonizada pela Junta Militar da RENAMO e em resposta a nossa força já se desdobra ao longo do distrito, mas com indicação muito próxima de onde poderá estar a circular este grupo de bandidos que resultou na sua incursão", confirmou.
O comandandante disse que "para além de terem roubado bens alimentícios, dois cidadãos perderam a vida". "Mas queremos dizer que a nossa força está lá para estar atenta", garantiu Sive.
A DW África procurou ouvir novamente a polícia esta quarta-feira (29.09), mas o comandante remeteu qualquer comentário para um outro momento.
Aproveitamento do nome da Junta Militar?
Contactado telefonicamente, o líder da Junta Militar, Mariano Nhongo, avançou os reais motivos que podem ter originado o ataque, mas não assume a autoria do mesmo.
"Não, olha lá jornalista, porque já passaram quatro meses a cinco meses quando a FRELIMO assim como Ossufo [Momade] cantavam que já não havia mais a Junta Militar, que o povo que fique sossegado, [pois] já em Moçambique não há guerra, então nós tínhamos que desmentir, [dizer] que a Junta Militar ainda existe, [mas] não são da Junta Militar [os homens] que atacaram ali", afirmou.
Nhongo disse que podem ser outras pessoas a querer se aproveitar do nome do seu grupo e argumenta: "Se alguém não é amado, o descontentamento enche, surge muito descontentamento, cada qual fala e faz o que quer... Aqueles não são a Junta Militar parece que podem ser pessoas que querem ajudar a Junta Militar".
"Quando nós [fazemos] isso não é para exibirmos ou para andarmos a falar coisas que não dá, só que nós estamos a exigir ao Governo para aceitar o que a Junta Militar quer", disse ainda Mariano Nhongo.
Num tom de ameaça, o líder da Junta Militar acrescenta que "se o Governo não ouvir, mesmo se a Junta Militar não fez nada, mas pessoas [podem atacar], podem fazer aquilo". E conclui: "E vocês já sabem que num país quando há guerra é sempre acusado aquele que está na guerra. Podem acusar a Junta Militar, mas a importância é exigir ao Governo que aceite aquilo que a Junta Militar quer".