Tete: Corrupção custa milhões à função pública custa
15 de julho de 2022Na província de Tete a criminalidade é marcada sobretudo por corrupção, peculato e abuso de poder. A maioria dos acusados são funcionários públicos, afirmam as autoridades.
Corrupção na educação, saúde e polícia
Cândido Wilson, porta-voz do Gabinete Provincial de Combate à Corrupção, revelou as áreas sociais onde há maior incidência de crimes.
″A destacar temos a educação com seis processos, seguido da saúde e a polícia com três processos cada. Por fim, o SERNIC e a polícia municipal, com dois casos em ambos os setores”, disse Wilson.
Nos últimos meses, o balanço em Tete é de onze funcionários da Autoridade Tributária constituídos arguidos por desviarem onze milhões de meticais (cerca de 171 mil euros). O Estado foi lesado em cerca de 180 milhões de meticais (dois milhões de euros), segundo o gabinete anticorrupção em Tete, que registou 31 processos envolvendo funcionários públicos naquele período.
Justiça sem olhar a nomes ou cargos
O ativista social António Zacarias condena a prática que, segundo diz, tem colocado Moçambique na lista dos países com maior índice de corrupção ao nível de África, e não só. Zacarias defende a condenação de todos os envolvidos em atos de corrupção, independentemente do cargo ou função que ocupem.
"Não é com perfis como estes, não é com sabotagens deste nível que podemos construir o Moçambique que pretendemos”, disse à DW África.
O ativista vai mais longe. Mais do que julgar os crimes, diz, "é preciso que haja uma mudança radical e se necessário desbloquear todo o sistema existente atualmente”, para ir "buscar gente” que esteja alinhada com o "projeto que Moçambique pretende”.
"O partido é um ninho que alberga corruptos"
Recentemente, o Gabinete de Combate à Corrupção em Tete divulgou uma acusação do Ministério Público contra o primeiro secretário da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Gonçalves Jemusse. O dirigente político é acusado de desviar cerca de um milhão de meticais (15 mil euros).
O crime de corrupção de que é acusado terá ocorrido entre 2019 e 2021, quando Jemusse era administrador do distrito de Chiúta.
António Zacarias não confia que o político seja responsabilizado e punido. Para o ativista social, o partido tem sido "um ninho que alberga corruptos".
"Há uma blindagem, uma proteção à volta", disse acrescantando que a procuradoria, o tribunal e o gabinete de combate a corrupção são instituições subjugadas aos ao poder político.
A DW África tentou, sem sucesso, ouvir Gonçalves Jemusse e a FRELIMO sobre este caso.