Inflação em Moçambique 'é um absurdo'
14 de julho de 2022As cidades de Maputo e Matola acordaram nesta quinta-feira (14.07) de forma tímida, com o comércio a funcionar a meio gás, algumas escolas encerradas, sem transportes públicos e muita presença policial nas ruas, avenidas e principais praças e mercados da capital e arredores.
Em alguns bairros suburbanos das duas cidades, jovens colocaram barricadas nas rodovias, pneus a arder e arremessaram pedras contra viaturas particulares e de transporte semicoletivo, vulgo chapa.
Os protestos foram convocados por pessoas sob anonimato por via das redes sociais com o objetivo de contestar o alto custo da vida. Alguns populares mostram-se incrédulos com a subida do custo de vida e concordam que há razões para protestos.
"Outros comem do bom e do melhor"
"É um absurdo, o bolso vai furar. A pessoa planeia a vida a cada mês", disse Júlio Mateus.
António Balate, também morador, questiona qual o limite para a subida dos preços.
"Estamos a passar mal com essas coisas de subida de preços. Hoje sobe isto, amanhã aquilo e não sabemos quando vamos terminar com isto".
As críticas não se ficam pela subida dos preços, mas também caem sobre os dirigentes políticos, acusados de "comer do bom e do melhor, tem transporte de graça e nunca subiu no chapa", disse Alberto Sitoe.
A FRELIMO, partido no poder, reconhece o alto custo de vida. O primeiro secretário do partido na cidade de Maputo, Razak Manhique, apela à calma e diz que o problema não é só de Moçambique.
"O Governo está à procura de mecanismos para reduzir este elevado custo de vida. E é importante transmitirmos forças a este Governo, que está reunido para ver se encontra soluções que aliviem a atual situação", disse.
Inflação agudiza "pobreza extrema"
O aumento dos preços tem um impacto grave na carteira dos moçambicanos. O analista do Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), Dércio Alfazema, entende que a situação tensa que se viveu nas primeiras horas desta quinta-feira, é consequência da pobreza crescente.
"A questão do desemprego, sobretudo na juventude, a questão da incapacidade de prover serviços necessários, estamos a falar de transporte, serviços de educação e saúde", disse Alfazema à DW África.
O analista acrescenta que o facto de "haver famílias que têm uma refeição por dia” são fatores que "contribuem para que sejam facilmente mobilizadas situações de instabilidade".
Vandalismo sob ordens de anónimos
Apesar de ter compreensão para as queixas dos populares, o primeiro secretário da FRELIMO, Razak Manhique, afirma que os manifestantes estão a ser manipulados por desconhecidos para perpetrarem atos de vandalismo.
"Nós só temos um país que é este. E se destruirmos as poucas infraestruturas que conseguimos com muito sacrifício, amanhã vamos precisar delas para as nossas vidas”, disse.
O analista Dércio Alfazema concorda que nestes protestos há sempre algumas pessoas que se aproveitam da dor e do sofrimento do povo para mover causas próprias.
"Algumas pessoas vão promover atos de vandalismo, de destruição, vão acabar detidas por coisas que elas próprias não sabem e por motivações que elas próprias desconhecem”, afirmou.
A forte presença da polícia nas ruas, avenidas e praças de Maputo conseguiu conter os ânimos.
Alfazema diz que o impacto destes protestos pode não ser de larga escala, mas é significativo. "A economia pode estar a ressentir-se desta paralisação, porque as pessoas não estão na rua para exercer os seus trabalhos habituais. Então, de alguma forma, há danos resultantes desta ameaça", concluiu.