Moçambique ainda está longe de eliminar a corrupção
9 de dezembro de 2018O combate à corrupção em Moçambique ainda vai enfrentar muitas e duras batalhas. O Gabinete Central de Combate à Corrupção em Moçambique (GCCC) reconhece que enquanto os corruptos não forem julgados e responsabilizados, dificilmente este mal será combatido.
A instituição garante, por isso, que há maior articulação entre a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Ministério da Administração Estatal e Função Pública para identificar os corruptos. Além disso, segundo o porta-voz da instituição, Cristóvão Mondlane, a PGR e o Tribunal Supremo já começaram a articular com rigor para responsabilizar os corruptos.
Cristóvão Mondlane diz que a articulação entre as duas instiuições vai "no sentido de impulsionar o conhecimento adequado de todos os funcionários destes setores para o combate a este mal".
Mondlane reconhece ainda que, anteriormente, o sistema judicial - a PGR e o Tribunal Supremo - não encaravam a corrupção com a mesma dimensão que os homicídios ou outro tipo de crimes.
O GCCC sublinha a existência de impunidade dos funcionários, sobretudo os que ocupam cargos de chefia que não declaram os seus bens, violando a lei da probidade pública. Segundo Mondlane, há dificuldade em julgar estes casos por causa dos "procedimentos a seguir", referindo-se à má instrução de processos, que não devem ser feitos por mera emoção porque o Estado pode sair lesado, quando o indiciado ganhar a causa.
Faltam meios para combater a corrupção
O Gabinete de Combate à Corrupção queixa-se da falta de recursos humanos e materiais, bem como financeiros, dado o cenário de crise que o país atravessa, para avançar com medidas de combate à corrupção em Moçambique. Outro problema que o GCCC enfrenta é o de algumas pessoas que ainda não têm a consciência de que a corrupção é um sistema.
Cristóvão Mondlane dá o exemplo de alguns cidadãos que quando se deslocam a uma repartição do Estado vão munidos de um dinheiro extra para dar "refresco" ao funcionário que o atender.
É por aí que o Gabinte de Combate à Corrupção entende que é seu dever "coordenar as atividades de prevenção e combate com os poucos funcionários que existem para tal", frisou Mondlane.
País perde mais de 50 milhões de euros por ano
Vários estudos publicados pela organização não-governamental CIP, Centro de Integridade Pública, dão conta de cenários preocupantes de corrupção em Moçambique.
Segundo a organização, em média, o país perde mais de 50 milhões de euros por ano por causa deste problema.
O jornalista e investigador do CIP Borges Nhambire sublinha que o setor alfandegário se destaca no desfalque financeiro nos cofres do Estado, devido a cobranças ilícitas e fuga ao fisco.
Ainda assim, Nhamire reconhece que já há avanços no combate à corrupção - mas o quadro ainda não é satisfatório.
Um exemplo positivo, diz o investigador, é o empenho que a empresa pública Eletricidade de Moçambique (EDM) levou a cabo através dos seus anteriores dirigentes que "denunciaram publicamente que na aquisição de contadores eram pagos 20 dólares e não 120 dólares".
O CIP tece igualmente elogios à Procuradoria-Geral da República por ter dado seguimento aos estudos da organização que indiciavam corrupção no setor público. "O CIP contabiliza muitos estudos que realizou e a PGR pegou nesses estudos, fez a investigação de alguns casos que tiveram desfecho, mas outros não", afirma.
A organização congratula-se ainda pelo fato de alguns cidadãos terem sido julgados e condenados por prática de atos de corrupção incluindo alguns altos dirigentes, "mas o caminho ainda é longo para acabar com este mal".