Mauritânia nas urnas para eleger sucessor de Abdel Aziz
22 de junho de 2019Estão abertas as assembleias de voto na Mauritânia para a primeira volta das eleições presidenciais destinadas a escolher o sucessor de Mohamed Abdel Aziz, há 11 anos no poder e constitucionalmente impedido de se recandidatar.
1.544.132 eleitores são chamados a votar num dos seis candidatos às presidenciais: Mohamed Ould Ghazouani, Sidi Mohamed Ould Boubacar, Biram Dah Abeid, Mohamed Ould Maouloud, Mohamed Lemine El Mourteji e Kane Hamidou Baba.
Após vários golpes de Estado desde que se tornou independente de França, em 1960, e vários dirigentes militares, a Mauritânia deverá ver, pela primeira vez, um Presidente eleito a terminar o seu mandato e a transferir o poder para um sucessor eleito, embora a oposição aponte receios de fraude.
Vários partidos acusam a Comissão Nacional Eleitoral de estar ao serviço do regime e mostram-se indignados pelo facto de o Governo ter rejeitado um pedido para convocar observadores internacionais para monitorizar as eleições presidenciais.
Se nenhum dos seis candidatos conseguir a maioria absoluta dos votos expressos, terá de se realizar uma segunda volta entre os dois mais votados, que está agendada para o próximo dia 6 de julho.
Estabilidade e continuidade?
O Presidente cessante é amplamente visto como o responsável pela estabilização do país, após tomar o poder num golpe de Estado, em 2008. Abdel Aziz foi eleito Presidente em 2009 - numa votação que os seus opositores descrevem como "golpe eleitoral" - e em 2014, numas eleições boicotadas pelos partidos da oposição, com uma vitória de 82%, segundo os dados oficiais.
Impedido constitucionalmente de se candidatar a um terceiro mandato, Aziz abandona o poder com a esperança de ver suceder-lhe um dos seus mais próximos colaboradores, o ex-general Mohamed Ould Ghazouani, que se candidata pelo Partido da União para a República, que apoiou o atual Presidente, e que as sondagens colocam em primeiro lugar na preferência dos eleitores.
A campanha de Ghazouani centrou-se nos temas da continuidade, solidariedade e segurança. "Só há duas escolhas – recuar, em direção ao extremismo, desperdício e instabilidade, ou o vosso candidato, que dará continuidade ao que já foi feito para construir um Estado estável e desenvolvido", disse o candidato de 62 anos aos seus apoiantes, na quinta-feira (20.06).
As sondagens revelam que a oposição ao atual Presidente prefere maioritariamente Sidi Mohamed Ould Boubacar, que foi por duas vezes chefe de Governo (1992-1996; 2005-2007) e que em 2007 tinha sido impedido de se candidatar ao lugar de Presidente, por nessa altura pertencer ao Conselho Militar.
Boubacar é apoiado por uma coligação que integra o partido islamita Tewassoul, a principal força de oposição ao Governo, e o exilado empresário franco-mauritano Mohamed Ould Bouamatou, muito crítico do atual regime.
Clãs - os "fazedores de reis"
O apoio do atual Presidente, Mohamed Abdel Aziz, é um trunfo importante para o candidato do Partido da União para a República, Ghazouani, que tem usado a popularidade dele a seu favor.
Um outro fator importante nas eleições é o apoio dos líderes de clãs, que funcionam como opinion makers, sobretudo nas zonas do interior, numa sociedade fechada e muito tribalizada.
Os líderes de clãs, conhecidos como "fazedores de reis", conseguem com facilidade mobilizar o eleitorado de uma região em torno de um candidato, o que tem levado os seis candidatos a procurar o seu apoio nas digressões de campanha que fizeram ao longo das últimas semanas.
Apelos ao fim da escravatura
A campanha foi dominada pela discussão do tema dos direitos humanos, com os partidos da oposição a pedir medidas urgentes para combater o tráfico de seres humanos, bem como os ataques à liberdade de imprensa -- problemas que se prometeram resolver após o regime de partido único que vigorou até 2005.
A Amnistia Internacional e outras dezenas de grupos de defesa dos direitos humanos pediram aos candidatos presidenciais o fim da escravatura e da violência contra mulheres. A Mauritânia foi o último país do mundo a abolir a escravatura, em 1981, e ativistas estimam que dezenas de milhares de pessoas vivam ainda nesta condição.
Os seis candidatos convergem no diagnóstico da necessidade de melhorar as condições de vida dos cerca de 4,5 milhões de habitantes, de um país com muitas necessidades de infraestruturas e de melhores sistema de saúde e de educação.
As divergências surgem sobre a avaliação da eficácia do atual sistema de governação, com o candidato do partido do poder a mostrar-se otimista quanto à continuidade das opções políticas de Aziz e a oposição a revelar-se muito cética e referindo o crescimento do PIB (que foi de 3,6% em 2018) como insuficiente para retirar o país dos níveis de pobreza em que se encontra.