Líbia sedia primeira transição política pacífica da história
8 de agosto de 2012O CNT passará o poder ao Congresso Geral Nacional (CGN). Este composto por quase duzentos membros deverá iniciar os trabalhos ainda esta semana. A ação deverá conduzir o país às eleições, com base na nova Constituição a ser possivelmente aprovada em 2013.
O Congresso Geral Nacional ficará encarregado de escolher o novo governo que então substituirá o Conselho Nacional de Transição. Este, por sua vez, deverá ser dissolvido na primeira sessão do CGN.
Cerimônia noturna
Por ser Ramadã, a cerimônia de repasse de poder, programada para durar aproximadamente duas horas nesta quarta-feira, deverá acontecer somente no turno da noite.
O evento irá acontecer em uma luxuosa sala de conferência de um hotel da capital líbia, Trípoli. A mesma sala passará a servir de sede provisória ao CGN. Uma sala reservada no segundo andar, especialmente para esta função.
A cerimônia de transferência do poder conta com medidas especiais de segurança. Os motivos são o aumento da violência em várias regiões da Líbia nos últimos dias. O CNT indicou recentemente que três homens teriam planejado atentados à bomba para este 8 de agosto. As pessoas em questão foram detidas.
O que vêm pela frente
As primeiras eleições parlamentares livres da Líbia, dos últimos quarenta anos, elegeram a Aliança das Forças Nacionais (AFN) - muçulmanos moderados - do antigo primeiro-ministro Mahmoud Jibril. Esta coligação reúne mais de 40 pequenos partidos liberais. Juntos eles foram responsáveis pela revolta contra Muammar Kadhafi. A AFN terá 39 lugares no parlamento dos 80 reservados aos partidos políticos.
O Partido para a Justiça e Construção, da Irmandade Muçulmana, partido no qual se apostava que iria vencer o escrutínio, teve que se dar por satisfeito com menos de metade dos assentos (17). Com isso, os líbios surpreenderam não apenas os principais observadores internacionais, como também quebraram uma onda de vitórias dos partidos islamistas no mundo árabe, como aconteceu na Tunísia e no Egito, por exemplo.
Depois da derrota na Líbia, é teoricamente possível que os islamistas consigam atrair tantos políticos independentes para seu lado que passem a desempenhar um papel importante, senão o principal, na Assembleia Nacional", acredita Kurt Pelda, especialista em assuntos líbios.
A luta continua
Recorda-se que para muitos líbios, a ligação com a tribo de origem ou com a comunidade da qual provêm é mais importante do que a ligação partidária. Antes de Muammar Kadhafi ter perpetrado o golpe de Estado e ter chegado ao poder em 1969, as três regiões de Cyrenaika, Fessan e Trípoli tinham identidades diferentes. Nos tempos do rei Idris, o primeiro dirigente da Líbia, vigorava até 1963 uma constituição federal no país.
Neste contexto, Said Laswad, redator chefe do jornal "Tripoli Post" alerta: "A segurança é um fator importante na Líbia. Por exemplo, o desarmamento de grupos armados espalhados pelo país."
Também economicamente o país precisa lutar contra muitos problemas. Há alguns meses o petróleo voltou a fluir novamente como antes da revolução. Mas Kurt Pelda lembra que a infraestrutura na Líbia é um grande problema e que já nos tempos de Kadhafi não era dada a devida atenção à infraestrutura do país. Ele alerta para um colapso na economia líbia caso nenhuma atitude seja tomada.
Autora: Anne Allmeling / Nádia Issufo
Edição: Bettina Riffel / António Rocha