Líbia: Paz frágil apesar do cessar-fogo
6 de setembro de 2018Depois de uma semana de confrontos violentos que mataram pelo menos 61 pessoas, o líder da missão da ONU, Ghassan Salamé, mostra-se preocupado. "A 4 de setembro, a missão declarou um cessar-fogo e isto travou efetivamente os combates e deu início à restituição de alguma ordem na cidade. A missão está agora a trabalhar para proteger esta paz frágil", diz.
Mas como a presença do Estado Islâmico no país está a aumentar, Ghassan Salamé alertou o Conselho de Segurança "para a possibilidade de a Líbia se tornar um abrigo para grupos terroristas" e pediu "ajuda para lidar com esta ameaça".
As autoridades líbias estão a braços com vários problemas no terreno após uma semana de confrontos: há quase 160 feridos, várias pessoas estão desaparecidas e cerca de duas mil foram desalojadas.
Milhares de migrantes e deslocados
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), há atualmente mais de 600 mil migrantes e quase 180 mil deslocados internos na Líbia. O gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos em Genebra expressou a sua preocupação sobre o impacto dos combates nos migrantes e deslocados.
No seguimento dos confrontos, centenas de migrantes fugiram de um centro de detenção nos arredores de Tripoli. "Estavam no centro de detenção na estrada do aeroporto, na zona dos confrontos, abriram as portas e fugiram. Cerca de mil e duzentos foram encontrados numa quinta. Recebemos 545", conta o diretor da Agência Anti-Imigração Ilegal da Líbia, Ismail Khairi.
"Muitas organizações disseram que iam responder a todas as nossas necessidades, mas, até agora, não recebemos nada, não há comida ou colchões para os detidos. O centro não consegue suportar estes números", diz o capitão.
País estratégico para a Europa
Esta quarta-feira (05.0), a União Europeia (UE) apelou ao respeito pelo cessar-fogo acordado em Tripoli. Mas, se a Líbia é considerada um país estratégico para a Europa, devido à questão da migração, o mesmo não se pode dizer da sua importância para os países africanos. A União Africana (UA) está praticamente ausente da busca de uma solução para a instabilidade que reina na Líbia desde a queda de Muammar Kadhafi, em 2011. O país é governado por autoridades rivais em Tripoli, apoiadas por diferentes milícias.
O diplomata do Burkina Faso Mousbila Sankara, ex-embaixador na Líbia, aponta vários motivos para a ausência de África nas tentativas de resolução do problema: a falta de eficácia, a falta de compromisso e a falta de probidade dos líderes africanos. "A UA tem de se organizar e tomar a iniciativa. Abordar as partes em conflito, fazê-las compreender o perigo da situação para a região e para África. O que quer cada uma das fações? Se for petróleo, partilhem. Se for o poder, partilhem", defende.
Em maio, os protagonistas da crise líbia, o primeiro-ministro Fayez al-Sarraj Sarraj e o marechal Khalifa Haftar - que domina o leste da Líbia, onde criou um autoproclamado exército nacional - comprometeram-se em Paris a organizar eleições legislativas e presidenciais em dezembro. No entanto, analistas consideram que a fragmentação do país e a insegurança tornam difícil o cumprimento do prazo.