Léopold Senghor: De prisioneiro a Presidente
30 de junho de 2020Nascimento: Léopold Sédar Senghor nasceu a 9 de outubro de 1906, no sudeste da capital senegalesa, Dakar.
Legado: Foi o fundador e um forte defensor da Negritude, um movimento político e literário nascido na década de 1930. Tornou-se Presidente da República do Senegal em setembro de 1960, depois de ter exercido funções, entre outras atividades, como jornalista. Foi chefe de Estado durante mais de duas décadas. Morreu no dia 20 de dezembro de 2001, com 95 anos, em França.
Lembrado por: ser uma pessoa humilde e pacífica. Era perfeccionista no seu trabalho e apaixonado por línguas. Foi o primeiro escritor negro a ser eleito como membro da Académie Française, em 1984, e foi também o primeiro chefe de Estado em África a demitir-se por vontade própria.
Frases famosas:
"A emoção é negra, tal como a razão é helénica." Apesar das críticas, Senghor nunca negou o papel da emoção. E censurou os seus opositores por não a tentarem compreender. Defendia que a emoção é a razão intuitiva em oposição à definição europeia de razão, a discursiva.
"Assimilar não é ser assimilado." Através desta outra famosa citação, Senghor exorta a juventude africana a assimilar tudo o que provém da cultura antiga e a elevar este conhecimento a uma nova altura que costumava ser inatingível para as pessoas da sociedade antiga.
"A civilização do universal." O ditado emana da famosa teoria senghoriana da assimilação e da abertura, do dar e do receber. Explica a mistura do lado negro e da parte helénica que deveria conduzir ao "Novo Negro", um homem íntegro e fecundo.
Que mal-entendidos afetaram a vida de Senghor?
Entre 1962 e 1968, Léopold Sédar Senghor cometeu vários erros políticos ao lidar com a ascensão da Frente Popular no Senegal. Teve de enfrentar sozinho o movimento intelectual e estudantil de 1968, ligado ao marxismo.
Reconhecido: Senghor recebeu inúmeros prémios e distinções, entre eles a Legião de Honra francesa, o Prémio da Paz do Comércio Livreiro Alemão, em 1968, e inúmeros títulos honoríficos de algumas das principais universidades do mundo. Entre os vários lugares e instituições que ostentam o seu nome, destacam-se a Fundação Léopold Sédar Senghor, um estádio, um aeroporto no Senegal, a Universidade Senghor, em Alexandria, no Egito, e o Instituto Senghor, em Portugal.
Léopold Sédar Senghor era um homem de muitos talentos - um poeta, um político e um entusiasta cultural. Prova disso é que para além de ter sido o cérebro do movimento Negritude, que defendia o orgulho e a identidade negra, Senghor tornou-se o primeiro Presidente do Senegal e foi o responsável pela organização, em Dakar, do Primeiro Festival Mundial de Artes Negras, em 1966.
Os seus poemas, que continuam a ser lembrados nos dias de hoje, foram inspirados no local onde nasceu, em 1906.
"Metade dos meus poemas foram inspirados em dois bairros onde passei a minha infância: Finla e Joal. Na escrita dos meus poemas, inspirei-me na minha infância e na minha terra", disse.
Importância da cultura
Léopold Senghor escreveu centenas de artigos de imprensa, poemas e contos. E foi o primeiro negro a ser eleito membro da famosa "Académie Française". Em entrevista à DW, o jornalista Mame Less Camara, especialista em liderança política nos media, afirma que Senghor "queria fazer da cultura algo maior do que apenas uma espécie de adição governamental".
"Ele acreditava que a cultura estava no início e no fim de todas as coisas; que o desenvolvimento não era possível se não estivesse no quadro da cultura. Ou seja, se a cultura não estivesse à frente e depois de todas as coisas. Senghor tinha a sua própria definição de cultura que tinha muito a ver com o seu apoio à "francofonia", na verdade ele adorava o povo francês. Penso que era por isso que havia diferenças tão grandes entre ele e a maioria dos intelectuais senegaleses", acrescenta o jornalista.
Em 1960, Léopold Sédar Senghor torna-se Presidente do Senegal, um papel que acaba po desempenhar as duas décadas seguintes, e que ficaram marcadas por inúmeros desafios.
Um deles foi a divisão da Federação do Mali, composta pelo Senegal e pelo que é atualmente o Mali. Menos de um ano após a criação da Federação, em 1959, Senghor pediu à Assembleia Nacional que votasse a independência do Senegal, uma decisão que, como explica o historiador Ébénézer Sèdégan, da Universidade de Abomey-Calavi, no Benim, não agradou a todos e que teve implicações significativas. "Foi uma grande desilusão para toda a África Ocidental porque as pessoas que criaram a Federação do Mali, em 1959, eram a favor do movimento pan-africanista. A Federação do Mali teria sido a base fundadora dos Estados Unidos da África. Kwame Nkrumah e Sékou Toure foram os campeões mais famosos desta visão".
Depois veio uma disputa com o primeiro-ministro Mamadou Dia sobre a divisão do poder. Em 1962, Dia foi acusado de conspirar um golpe de Estado e foi preso.
Alguns anos depois, em maio de 1968, Senghor teve de enfrentar uma rebelião estudantil no seu país.
Apesar dos muitos obstáculos políticos, e quase duas décadas após a sua morte, Léopold Senghor continua a ser um motivo de orgulho para o Senegal e para o resto do continente.
O parecer científico sobre este artigo foi dado pelos historiadores Lily Mafela, Ph.D., professor Doulaye Konaté e professor Christopher Ogbogbo. O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.