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História

Cheikh Anta Diop: O académico visionário

Tamara Wackernagel | rl
23 de março de 2018

Antropólogo, historiador, especialista em física nuclear e apaixonado por linguística, o senegalês Cheikh Anta Diop teve um papel fulcral na escrita da História de África, livre dos preconceitos racistas.

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Illustrationen - African Roots
Foto: Comic Republic

Nascimento: Em 1923, na aldeia de Thieytou, a cerca de 100 quilómetros a leste de Dakar, no Senegal, numa família Wolof. Em 1946, foi-lhe concedida uma bolsa para estudar em França. Começou pela área da Física e Química, tendo mais tarde estudado Filosofia e História. Nesta última área de estudo, o senegalês debruçou-se especialmente em temas relacionados com a "África negra pré-colonial" e com a "unidade cultural da África negra". Cheikh Anta Diop era nacionalista e um defensor do federalismo africano. Voltou ao Senegal em 1960, ano da independência do país, e dedicou-se até à sua morte, em 1986, ao ensino, à investigação e à política.

Reconhecido: 

- Pelos vários trabalhos científicos e livros acerca da história e também do futuro do continente africano.

- Baseada no parentesco entre as línguas africanas como o Wolof, a sua língua materna, e o egípcio antigo, a teoria de Cheikh Anta Diop revelou a influência cultural que os povos africanos tiveram na civilização egípcia e demonstrou que "o antigo Egito teve raízes negras".

- Cheikh Anta Diop estudou Química e Física Nuclear e criou, em 1966, o primeiro laboratório africano de datação por radiocarbono, na universidade que hoje tem o seu nome.

- Durante os seus anos de estudante, Cheikh Anta Diop defendeu a independência dos países africanos. Mais tarde, tornou-se uma figura importante do movimento federalista africano, tendo apresentado as suas ideias na obra "Os fundamentos económicos e culturais de um Estado federal da África Negra" (1960).

Frases famosas:

O Egito é para o resto da África negra o que a Grécia e a Roma são para o mundo ocidental.

A plenitude cultural apenas pode tornar um povo mais capaz de contribuir para o progresso geral da humanidade e aproximá-lo do conhecimento de outros povos.

Os ideologistas que se escondem sob a pretensão da ciência devem perceber que a era do engano, da fraude intelectual está definitivamente acabada, que uma página foi transformada na história das relações intelectuais entre os povos.

Os trabalhos de Cheikh Anta Diop eram incontestáveis?

Quando o seu livro "Nações e Cultura Negras" foi publicado, em 1954, Cheikh Anta Diop teve que enfrentar um grande ceticismo no mundo académico, para além das críticas baseadas em preconceitos racistas herdados do colonialismo. Alguns colegas acusaram-no de ter uma abordagem multidisciplinar que às vezes era caótica, outros afirmaram que o seu trabalho científico era influenciado pelo seu ativismo político. Em 1974, o senegalês apresentou a sua teoria num simpósio internacional no Cairo perante uma plateia compostas por egiptólogos. Foi aqui que alguns dos maiores especialistas na área louvaram pela primeira vez as suas teorias "visionárias". Desde então, as suas teses são aceites como verdades científicas.

Cheikh Anta Diop e a História de África sem preconceitos

A cultura egípcia antiga, tão admirada pelo mundo ocidental, é africana e tem sido influenciada por povos provenientes da África negra. Cheikh Anta Diop afirmou-o em 1954. "Esta humanidade que nasceu em África, nas margens do rio Nilo, era negra. Depois colonizou progressivamente o vale e teve 120 mil anos em frente a ele para descer da região de Uganda até ao Delta do Nilo", disse.

Por detrás desta tese estavam argumentos científicos sólidos, como por exemplo a proximidade das linguagens do antigo egípcio com outras línguas africanas. A revelação de Cheikh Anta Diop provocou alvoroço na comunidade científica, onde os preconceitos racistas eram muito comuns.

Como explica Aboubacar Moussa, especialista em egiptologia e professor da Universidade Cheikh Anta Diop, em Dakar, as teorias de Diop foram revolucionárias para a época. O seu livro,, publicado em 1954, "tornou-se o livro de cabeceira de todos os estudantes intelectuais africanos e de todos os intelectuais da diáspora. Os ocidentais fizeram tudo o que puderam para desacreditar o livro", afirma.

No entanto, desacreditar o livro era difícil devido ao rigor científico deste senegalês doutorado em Letras. Cheikh Anta Diop era também formado em Química, Física Nuclear e Filosofia. Mas os seus interesses não se ficavam por aqui. O professor Diop tinha também uma paixão por História e Linguística e um gosto especial em resolver problemas grandes. Como lembra Babacar Diop,  professor de História da Universidade de Dakar, Diop "lidou com questões muito complexas: com a questão das línguas nacionais, do federalismo em África e problemas relacionados com energia”.

Illustrationen - African Roots
Cheikh Anta Diop criou, em 1966, o primeiro laboratório africano de datação por radiocarbonoFoto: Comic Republic

Para este professor, o senegalês "era um visionário". Hoje "não é possível falar sobre a História de África, nem mesmo sobre a história da humanidade, sem mencionar a obra de Cheikh Anta Diop", frisa.

Passado e futuro

Para além de se ter debruçado sobre a História do seu continente, Cheikh Anta Diop também se interessou pelo futuro de África. Durante os seus estudos, comprometeu-se com movimentos estudantis pró-independência e na década de 1960 apoiou o multipartidismo e a democracia no Senegal. Viajou por todo o continente para pedir aos africanos que se unissem política, económica e culturalmente.

Babacar Diop lembra o professor como uma pessoa "humilde” e "acessível". Era também uma "pessoa franca", que "não escondia as suas ideias, mas claro que se tivesse que levantar a voz, fazia-o. Não fugiu das suas responsabilidades, o que mostra que tinha também uma personalidade muito forte", diz.

A determinação  de Cheikh Anta Diop ajudou a colocar um fim na "falsificação da história humana" herdada do passado colonial.

Entre 1964 e 1999, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) foi publicando gradualmente a História Geral de África, na qual as teses de Anta Diop têm uma parte importante.

O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.

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