"Mocímboa da Praia está na mão dos insurgentes”, diz bispo
19 de agosto de 2020O norte de Moçambique está a braços com o problema dos deslocados internos, no contexto da insurgência. Na última semana, Mocímboa da Praia foi atacada e tomada pelos insurgentes.
O porto da vilta terá sido capturado na terça-feira (11.08) por atacantes ligados ao Estado Islâmico, segundo alegações do grupo terrorista.
De acordo com o bispo de Pemba, dom Luiz Fernando Lisboa, o distrito continua nas mãos dos homens armados.
Milhares terão fugido para Mueda e para outras lugares mais seguros da província de Cabo Delgado, como Montepuez e Pemba.
Sobre o apoio aos deslocados, o líder religioso garante à DW África que se faz um apoio coordenado, inclusive com o Governo, mas a lista de necessidades ainda é vasta.
DW África: A tomada de Mocímboa da Praia pelos insurgentes na última semana representou um aumento de deslocados internos nas áreas seguras de Cabo Delgado?
Luiz Fernando Lisboa (LL): Sim, com certeza. Desde há muito tempo que a população de Cabo Delgado está a fugir porque Mocímboa da Praia já foi atacado duas vezes de maneira muito forte. E nessa última agora, eles [os insurgentes] tomaram praticamente todo o distrito e a população fugiu pelo mato e muita gente chegou a Mueda.
Mueda neste momento está com milhares de pessoas deslocadas de Mocímboa da Praia, assim como outras tantas fugiram para Palma. E muitas outras passaram por Mueda e vieram para outros distritos como Montepuez e Pemba. A população de Mocímboa da Praia está toda espalhada pela província. Mocímboa da Praia está neste momento na mão dos insurgentes.
DW África: Aumenta a olhos vistos a mobilização de apoio para os deslocados internos. Sabe se há uma coordenação interinstitucional com o envolvimento do Estado visando uma distribuição mais equilibrada e ajustada?
LL: Todo o trabalho de distribuição das organizações internacionais e locais tem sido feito em coordenação com o Governo. Entre as [organizações] internacionais, o PMA – Programa Mundial de Alimentação, o ACNUR, a UNICEF e as locais, por exemplo, a Cáritas. Então, as autoridades conhecem as listas [de deslocados? Ou de apoios?], as organizações trocaram as listas e se organizaram de uma forma tal que estamos a tentar – não digo que estamos a conseguir – atender a todas as pessoas em todos os distritos onde elas estão. E aqueles que estão fora da província também as organizações e a própria Igreja dessas dioceses – Nacala, Nampula – estão a trabalhar no sentido de atender a essas populações de forma coordenada.
A Nampula, por exemplo, nós mandámos duas irmãs, que falam a língua maconde, que estão a trabalhar e a dar assistência nos acampamentos para facilitar o diálogo porque elas falam a língua. As duas religiosas estão lá com a Igreja local que está a fazer esse trabalho junto com outras organizações da sociedade.
DW África: Juntamente com instituições do Governo?
LL: Sim, sempre com o conhecimento do Governo.
DW África: Quais são as principais dificuldades no apoio aos deslocados internos neste momento?
LL: As dificuldades são difíceis de enumerar porque há necessidade de quase tudo. A alimentação, pelo número de deslocados, é sempre pouca. Os nossos armazéns enchem e esvaziam porque é muita gente. Nós a cada pouco [tempo] recebemos notícia – ‘Olha, chegou mais uma família. Ali estão mais umas tantas famílias naquele bairro'. Então o tempo todo está a chegar gente nos vários distritos. Por exemplo, neste momento Montepuez está com 31 mil deslocados, Chiúre com mais de 20 mil, Pemba com mais de 50 mil. Então, são contados aos milhares e atender essa gente com comida não é fácil. Mas também falta roupa, esteiras, cobertores. Faltam lonas porque muita gente ainda está a dormir no relento porque não tem lona, barracas e tendas suficientes para albergar essa gente. Então, nós temos necessidades de todo o tipo.