Bissau: ONG denuncia operação de desmantelamento de barcos
31 de março de 2022Há anos que a "degradação ambiental" na Guiné-Bissau é denunciada pelos ativistas ambientais, desde que ganharam força, no país, o abate de árvores de grandes portes e a proliferação e venda de sacos plásticos.
Os ativistas têm também alertado para as inundações costeiras e poluição do ar.
No fim de semana passado, o diretor executivo da ONG guineense Tiniguena, Miguel de Barros, voltou a denunciar alegados "maus comportamentos" ambientais, devido a um cemitério de barcos que estaria a produzir "lixos tóxicos".
"Há um privado a que foi autorizado um negócio com o Estado [guineense] para que a Guiné-Bissau receba dezenas de barcos velhos, que já não têm licença para circular nos mares internacionais, para serem desmantelados na Guiné-Bissau e, a partir daí, servirem como lixo", alertou Barros.
Instituto diz estar tudo normal
À DW África, o presidente do Instituto Marítimo e Portuário (IMP), Siga Batista, garante que não há nenhuma anormalidade nos trabalhos em curso: "Não há nenhum acordo entre o Estado da Guiné-Bissau [com o privado] sobre a importação de navios estrangeiros para o abate no nosso país".
"O que temos são seis navios velhos que operavam nas nossas águas há mais de 30 anos, resultante de um acordo de pesca entre o Estado da Guiné-Bissau e a República da China", explicou Batista.
"Portanto, chegado ao fim do ciclo de vida desses navios, é normal e natural que sejam abatidos e é o que estamos a fazer", acrescentou Siga Batista, garantindo ainda que os trabalhos estão a ser feitos com o conhecimento das autoridades ambientais, respeitando todas as normas.
Desmantelamento é ilegal
O ambientalista Miguel de Barros denunciou, no entanto, que desmantelar navios no porto de Bissau é ilegal.
"Nós estamos a fazer isso sem que todos os protocolos internacionais para desmantelamento de navios e proteção de lixo tóxico fossem ratificados pela Guiné-Bissau", afirmou.
O ambientalista promete levar o caso à Justiça. Denuncia ainda a "desorganização" da zona costeira e marinha da Guiné-Bissau, que, segundo ele, está a ser "dizimada" para a construção de infraestruturas e fábricas de produtos químicos.
"Visita séria" ao porto
Questionado sobre o assunto, Joãozinho Sá, diretor do Gabinete de Planificação Costeira do Ministério do Ambiente e da Biodiversidade, sublinhou a importância da área portuária.
"Faz parte da zona do mangal e qualquer poluição que acontecer vai alastrar e afetar muitas dessas zonas do mangal, é a biodiversidade que estará em causa. Por isso, uma das nossas funções é aconselhar o Ministério [do Ambiente] sobre consequências que possam advir desta situação, caso, de facto, esteja a acontecer".
Em relação ao desmantelamento dos navios no Porto de Bissau, o diretor do Gabinete de Planificação Costeira diz que pretende fazer "uma visita séria [ao porto] e ver o que está a acontecer".
"Vamos ter as dificuldades de avaliar em termos de parâmetros, mas in loco podemos tirar as nossas ilações do que pode acontecer, porque já temos experiência bastante nesta matéria", garantiu.
Em 2014, a Guiné-Bissau foi considerada um dos países do mundo mais vulneráveis às alterações climáticas. Para preservar o ambiente, o Governo guineense comprometeu-se, no ano passado, a reduzir em 30% as emissões de gases com efeito de estufa produzidos pelos setores da floresta, agricultura, energia e resíduos até 2030.