HIV/SIDA fora do controlo na Guiné-Bissau
21 de setembro de 2021Especialistas apontam a falta de conhecimento sobre as vias de transmissão do Vírus de Imunodeficiência Humana (HIV, na sigla em inglês) e o estigma à volta da doença como principais fatores que contribuem para o aumento do número de casos na Guiné-Bissau.
A secretária-executiva do Secretariado Nacional de Luta contra a Sida (SNLS), Fatumata Diareye Diallo, diz que, com a pandemia de Covid-19, os números dispararam.
"Os números de infetados dispararam e não estamos a ter o controlo sobre o HIV/SIDA, principalmente por causa da pandemia, mas também porque o SNLS em si está com certas dificuldades em conseguir coordenar, devido à falta de meios técnicos, tecnológicos e financeiros", explica.
Segundo Diallo, os números dispararam e as informações que foram dadas é que a "maior parte dos óbitos por Covid-19 eram de pacientes positivos de HIV".
Números subestimados
Não há números atualizados, mas até dezembro do ano passado, a prevalência do HIV/SIDA na Guiné-Bissau era estimada em 5,3%, o que corresponde a 44 mil pessoas, de acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/SIDA (ONUSIDA).
"São 18 mil [pessoas] que estão em tratamento, mas a estimativa da ONUSIDA é de 44 mil. E nós achamos que isso está ultrapassado desde [o início da] pandemia e tem que ser feita uma cartografia, um mapeamento ou um novo recenseamento para ver o número real das pessoas infetadas", acrescentou Diallo.
Na Guiné-Bissau, o combate à doença é financiado, há vários anos, pelo Fundo Mundial de Luta Contra a SIDA, Tuberculose e Malária, que tem garantido principalmente os medicamentos para travar a propagação destas doenças.
Falta de apoios e de estrutura
João Gomes Correia, vice-presidente da organização "Sabunhima", que reúne portadores do HIV/SIDA, denuncia falta de apoio às estruturas que combatem a doença na Guiné-Bissau.
"Nunca tivemos Governo e nem temos Estado. Tinha que haver uma percentagem do financiamento do Fundo Mundial ao Governo da Guiné-Bissau para subsidiar as pessoas que estão no terreno e as que estão em tratamento. Quem é que vai tomar um medicamento tóxico [antirretroviral] sem comer nada? Essa pessoa prefere morrer", defende.
À DW África, o médico Hedwis Martins defende uma mudança de estratégia para controlar o HIV/SIDA na Guiné-Bissau.
"Investe-se muito dinheiro na compra de antirretrovirais, em vez de canalizar esses fundos para o combate à própria doença. Não faz sentido continuarmos a investir tanto nos antirretrovirais e deixarmos a parte de sensibilização para evitar que mais pessoas se contaminem", defende.
"Essa é uma das estratégias muito erradas que o país tem adotado ao longo dos últimos anos e que tem contribuído de uma forma significativa para que o número de HIV/SIDA continue a disparar na Guiné-Bissau", concluiu.